Ritual de Abertura “Abre Caminhos”
Com: Pai Ricardo, Rainha Belinha, Padre Mauro, Mam'etu Muiandê, Sidney D'Oxóssi
O Abre Caminhos marca o início simbólico do FAN, reunindo mestras e mestres de tradição em um gesto de bênção, proteção e celebração às ancestralidades que sustentam o festival. Conduzido por representantes de diferentes expressões religiosas e culturais — Pai Ricardo (Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente / CENARAB / Reunião Umbandista Mineira), Rainha Belinha (Rainha da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário e Rainha do Congo do Estado de Minas Gerais), Mam'etu Muiandê (Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango), Sidney D'Oxóssi (Terreiro Ilê Wopo Olojukan) e Padre Mauro —, a cerimônia reafirma o compromisso do FAN com a diversidade do sagrado, abrindo caminhos para o encontro, a arte e a continuidade das tradições negras.
Classificação: Livre

PAI RICARDO
Pai Ricardo de Moura coordena a Associação de Resistência Cultural Afro-brasileira Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente (CCPJO), terreiro que atua há cerca de 80 anos no Buraco Quente, região da Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte, uma das mais tradicionais comunidades afroperiféricas da cidade. Herdeiro dos conhecimentos da matriz Angola-Bantu transmitidos por seus pais, exerce também o cargo de Rei Congo da Guarda de São Jorge de Nossa Senhora do Rosário, no Bairro Concórdia (BH). Desde 2016, é professor convidado da Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG, onde compartilha os fundamentos dos terreiros com estudantes e professores em um espaço de diálogo entre regimes de conhecimento. Também atua como consultor, palestrante e orientador em políticas públicas voltadas à cultura, religiosidade e direitos dos povos de terreiro. É colíder do grupo de pesquisa Matuta: comunidade de pesquisa em terreiro, inscrito no diretório do CNPq, e autor do livro "Da Macega à Makaia: tramas de relação do falar negro de terreiro" (2025), desenvolvido junto ao Programa Rumos Itaú Cultural.

MAM'ETU MUIANDÊ
É a matriarca e liderança máxima do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango, comunidade fundada por ela há cerca de quarenta anos e situada na zona leste de Belo Horizonte. O quilombo constitui uma referência importante para o conhecimento da filosofia afro-brasileira. Sua raiz inicial foi jeje, razão pela qual possui notável conhecimento também nessa tradição e nos rituais desta nação, mas seu processo contínuo de formação foi na nação angola.

RAINHA BELINHA
Isabel Casimira Gasparino é herdeira da coroa de sua avó, Dona Maria Casimira, fundadora do Reino Treze de Maio (em 1944), e de sua mãe, Dona Isabel Casimira das Dores. Ocupa hoje o cargo de Rainha de Congo (ou Rainha Conga) das Guardas de Congo e Moçambique Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário e da Federação dos Congados do Estado de Minas Gerais, cargo mais alto na hierarquia dos Reinados em nossa região. Co-diretora do filme "A Rainha Nzinga Chegou", rodado entre Brasil e Angola e vencedor dos prêmios de Melhor Longa-Metragem na Mostra de Cinema Negro Adélia Sampaio (Universidade Federal de Brasília, 2019) e no 19º Festival Panorama Internacional de Cinema da Bahia, Salvador, 2019. O filme recebeu também Menção Honrosa no Prêmio Pierre Verger, categoria Filme Etnográfico, conferido pela Associação Brasileira de Antropologia em 2018. Isabel é pesquisadora e mestra de sua tradição e responsável por inúmeros projetos que visam "a permanência de sua raiz", como ela costuma dizer. Destacamos: "Do Tangível ao Intangível", documentação do acervo Guarda Treze de Maio e Centro Espírita São Sebastião, realizado junto ao IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus (desde 2014); "Retrato Substantivo Feminino", exposição e apresentação de cantos afros no FIDÉ – Festival Internacional du Documentaire Étudiant (Paris, FR) e SESC Ipiranga (SP, 2012); "Saberes do Sagrado, Irmandades do Rosário e o Registro Patrimonial", realizado junto ao IPHAN (2017). É também mestra convidada do programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da Universidade Federal de Minas Gerais.

PADRE MAURO
Padre Mauro Luiz da Silva, 58 anos, é doutor e mestre em Ciências Sociais, pós-graduado em Psicopedagogia, graduado em Filosofia, Teologia, História e Tutela do Patrimônio Cultural. Pároco, capelão, curador do MUQUIFU e coordenador e pesquisador do Projeto NegriCidade, atua na preservação do patrimônio afro-religioso e na promoção da memória e reparação cultural afrobrasileira.

SIDNEY D’OXOSSI
Sidney d’Oxossi, Babalorixá do Ilê Wopo Olojukan, primeiro terreiro ketu tombado como Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, escritor, pesquisador, bacharel e licenciado em Filosofia.