Prato de tropeiro
Adobe Stock

3 fatos que você não sabia sobre a história da gastronomia belo-horizontina

No mês em que se comemora o Dia da Gastronomia Mineira (5/7), trazemos 3 fatos que pouca gente sabe sobre a história gastronômica da capital mineira. Pode ir lá passar um café e volta aqui correndo pra gente descobrir informações surpreendentes sobre Belo Horizonte, integrante da Rede de Cidades Criativas da UNESCO desde 2019, como representante da gastronomia.

Quem falou que no Curral Del Rey não tinha ouro? 

A história da gastronomia belo-horizontina tem relação direta com importantes ciclos econômicos de Minas Gerais. O primeiro, cujo apogeu se deu no século XVIII, está ligado à exploração do ouro, atividade que atraiu enorme contingente de pessoas. Foi nessa época que os hábitos dos índios, dos portugueses e dos escravos africanos influenciaram-se mutuamente, forjando a base do que conhecemos hoje como a típica cozinha mineira. 

A descoberta do ouro, em 1665, faz surgir os primeiros povoados (considera-se Mariana como primeira cidade de Minas, com ocupação iniciada em 1696). Outras localidades viriam ao longo do tempo. E por outros motivos. 

Em 1701, um bandeirante de nome João Leite da Silva Ortiz criou a Fazenda do Cercado. Era uma fazenda composta por uma pequena lavoura, fabricação de farinha e criação de gado. Por sua boa localização, também se tornou entreposto comercial de alimentos para abastecer as regiões mineradoras do Estado. Desse movimento, surgiu o arraial de Curral Del Rei. Ali seria construída, em 1897, uma das primeiras cidades planejadas do Brasil: Belo Horizonte, nova Capital de Minas Gerais, substituindo Ouro Preto.

Embora marcado pela exploração de riquezas, nesse primeiro período conhecemos também a escassez de alimentos: de repente, havia muita boca para pouco feijão, e os gêneros alimentícios ficaram caros e difíceis de serem obtidos. A criatividade, aqui, passou a valer ouro também.

Museu Abílio Barreto
Museu Abílio Barreto

A reverência ao porco esteve na nossa origem desde sempre

Logo, a turma tratou de aproveitar ao máximo todos os recursos alimentares disponíveis à época, incluindo a caça e a pesca. Nos quintais, cultivavam-se hortaliças e se criavam pequenos animais, como a galinha, o frango e o porco. Essa era uma tradição portuguesa que chegou com os colonizadores e se incorporou de tal maneira à nossa cultura que até hoje pode ser encontrada no fundo das casas em cidades do interior.

Só que aí veio outro ciclo: a “ruralização” da economia regional. A febre do ouro chegava ao fim e tinha início uma época em que a vida econômica e social se concentrava em grandes fazendas, onde se criava gado e se expandia o cultivo de alimentos, principalmente legumes e hortaliças. Aos poucos, a carne vermelha foi sendo apreciada nas mesas onde, antes, a galinha, o frango e o porco reinavam absolutos. Essa foi a época da fartura de alimentos e da introdução dos pratos à base de carnes refogadas e servidas com suculentos caldos, como a Vaca atolada, a Canjiquinha e o Frango com quiabo, entre outros. A cozinha da fazenda é molhada e, por isso, acompanhamentos como o angu e os legumes e folhas refogados eram a norma.

Na área que depois se tornaria Belo Horizonte, não foi diferente. Daquela época para cá, a única construção remanescente do antigo Arraial do Curral del Rei foi a Casa da Fazenda do Leitão, construída por volta de 1833, por José Cândido da Silveira. A partir de 1943, ela passou a abrigar o Museu Histórico Abílio Barreto.

Igreja da Boa Viagem
Igreja da Boa Viagem

Conhece o feijão da Boa Viagem?

Se hoje é até meio difícil imaginar nossa alimentação cotidiana sem feijão, saiba que nem sempre foi assim. Esse grão super versátil só entrou de vez para os hábitos alimentares dessas bandas depois de uma intensa convivência com os tropeiros, homens que viajavam por longas distâncias a cavalo conduzindo tropas de burros carregadas de mantimentos e utensílios para abastecer a multidão de trabalhadores das minas de ouro. 

Em terras que futuramente seriam belo-horizontinas, em 1709, o português Francisco Homem del Rey conseguiu autorização da Coroa, por meio de Cartas de Sesmarias, e aqui se estabeleceu. Ele trouxe uma imagem da padroeira dos navegantes portugueses, que o acompanhou na travessia do Oceano Atlântico; e ergueu uma capela de pau a pique para abrigá-la. A capela ficava bem na rota dos tropeiros e recebeu o nome de Nossa Senhora da Boa Viagem (mais tarde, com a construção da capital, houve a necessidade de se erguer uma nova igreja – a atual Catedral Nossa Senhora da Boa Viagem – inaugurada em 1923). 

Os tropeiros carregavam sua própria cozinha, tendo o feijão como ingrediente básico. Farinha de mandioca, torresmo, carne de charque e brotos que encontravam pelo caminho compunham a mistura que depois se tornou o Feijão Tropeiro, prato que atravessou os séculos. Hoje, pode ser feito também com linguiça, ovo e couve, entre outros ingredientes. O casamento do feijão com a farinha também nos deu o Tutu, outro prato tradicional e sempre presente.

Em Belo Horizonte, o feijão tropeiro é também o queridinho dos estádios de futebol — gastronomia, tradição e paixão andam sempre juntas. Por sua popularidade, a venda do prato foi permitida em dois torneios internacionais com sede na capital mineira, a Copa das Confederações FIFA de 2013 e a Copa do Mundo FIFA de 2014. 

7 a 1? Nem lembro, estou aqui comendo meu tropeiro!


Saiba mais sobre a história da nossa cozinha e a designação
de Belo Horizonte como cidade criativa da UNESCO!