No mês em que se celebra o Dia Internacional da Dança, a Cisne Negro (SP) - uma das companhias de dança contemporânea mais longevas do Brasil, com passagens por 17 países -, também completa seus 46 anos de trajetória comemorados com temporada de espetáculos inéditos, em Belo Horizonte.
No dia 14.04, sexta, a partir das 21h, o público assiste a “Lampejos: uma degustação visual”, montagem recente da companhia inspirada na tradição do Butoh. Classificação indicativa: 10 anos. E no dia 15.04, sábado, às 18h, tem “Goitá”, espetáculo que reverencia o mamulengo pernambucano. Classificação indicativa: livre. Ambos com direção da bailarina Dany Bittencourt.
Ingressos no Sympla ou na bilheteria do Teatro do Sesc Palladium. Este espetáculo tem correalização do Sesc Palladium. “A última vez que viemos a BH foi com o espetáculo Hulda, em comemoração aos 40 anos da Cisne Negro.
Agora trazemos duas opções bem diferentes do nosso repertório ao querido público mineiro”, conta a bailarina e coreógrafa Dany Bittecourt que, desde 2012, assumiu a direção da companhia criada pela mãe, Hulda Bittencourt. “Acredito que a paixão pela dança de nossa inspiradora e saudosa fundadora passou não só para a família, mas também a todos que construíram esta história”, afirma.
Trabalho mais recente da companhia, “Lampejos – uma degustação visual” (2022) bebe na tradição do Ohno Kazuo’s Butoh. Mesclando dança contemporânea e Butoh, a coreógrafa Andressa Miyazato constrói com lampejos de memórias construídas em sua vida profissional e pessoal cenas que brincam com a ideia de temporalidade e com o conceito de linearidade. “Não somos nós que nos movemos cronologicamente como um ponto rígido no espaço-tempo, mas sim sob a forma da dança”, comenta Dany Bittencourt, que assina a direção artística do espetáculo. Durante 40 minutos, “o público se depara com uma conexão visual e sensorial enorme”, adianta Bittencourt.
Ela acrescenta que a coreografia foi concebida de forma inusitada: o premiado músico Jean Jacques Lemêtre (Thêatre du Soleil) utilizou diferentes instrumentos musicais para cada movimento dos bailarinos. “O resultado é uma coreografia recheada de memórias afetivas e reflexões da coreógrafa Adressa Miyasato sobre estes intensos lampejos de memórias construídas em sua vida profissional”, revela. Já “Goitá” (2019) experimenta em cena a dança contemporânea da Cisne Negro aliada à linguagem e técnicas de manipulação do teatro popular de bonecos da premiada Pia Fraus (SP). “O nome da montagem é inspirado na pequena cidade de Glória de Goitá, localizada a 60 km de Recife, considerada hoje a capital do mamulengo em Pernambuco”, conta a diretora.
A ação do espetáculo se passa em pleno mercado municipal, onde tradicionalmente são vendidos objetos de palha, artefatos de cozinha, cabaça, buchas e uma infinidade de produtos produzidos por pequenos agricultores e artesãos locais. “Estamos nos anos 60, quando ainda não havia celular, abundância do plástico, a internet, onde os efeitos da industrialização já eram sentidos, mas a vida era mais lenta”, contextualiza Bittencourt.
Nesse ambiente rústico e popular, em que tocam na rádio local o forró, o frevo, o baião, e os folguedos populares como cavalo marinho, os caboclinhos e o maracatu fazem parte do cotidiano da cidade, surge o Mamulengo, com sua tolda e seus bonecos, para alegrar o ambiente. “Em cena, os bailarinos se utilizam de elementos do mercado e os transformam em bonecos.
Panelas, vassouras, cestas e chapéus viram personagens da história”. “Goitá” tem direção artística de Hulda Bittencourt (in memoriam) e Dany Bittencourt, direção cênica e dramaturgia de Beto Andreetta (Pia Fraus), idealização e coreografia de Ana Catarina Vieira - artista que participou das duas companhias -, assistência de coreografia de Patrícia Alquezar, criação de bonecos de Dino Soto.
A trilha sonora é do veterano Quinteto Violado. Considerada uma das melhores companhias brasileiras contemporâneas, sucesso de crítica e público, a Cisne Negro já levou sua dança aos quatro cantos do planeta, sendo reconhecida por sua diversidade e inovação.
Para Dany Bittencourt, um dos segredos de atravessar tantas décadas está na experimentação e renovação. “A renovação dos coreógrafos, de elenco, de artistas envolvidos a cada novo desafio traz esta longevidade para a Cisne Negro.
A companhia não tem uma fórmula que deu certo. Adoramos novos desafios, novas lutas e novos ares”, afirma. Para a diretora, a escuta e troca com o público também foram fundamentais. “Dança contemporânea é aquela que dialoga com o público, fazendo-o refletir e se emocionar.
Às vezes as reflexões e observações sobre a mesma coreografia se divergem, dando a oportunidade de troca”, diz.