Coluna Literária - Celebração do Orgulho LGBTQIAPN+
Foto: Arte/FMCBH

Coluna Literária - Celebração do Orgulho LGBTQIAPN+

APRESENTAÇÃO

Para celebrar o mês do Orgulho LGBTQIAPN+ , a Coluna Literária mostra a diversidade de vozes, corpos e expressões artísticas, reafirmando o papel central da arte nas transformações que queremos e pelas quais lutamos. O símbolo +, na sigla plena de história, propósito e representatividade, sinaliza a busca constante e dinâmica por um maior entendimento e reconhecimento das diversas formas de ser, sentir e viver.

E é mesmo a pluralidade que marca essa edição comemorativa: o abrir-se para a vida e a arte, ainda na adolescência; o tornar-se e se reconhecer plural e singular ao mesmo tempo; a coragem e a intensidade de expressar o amor e a sexualidade de forma poética.

Os escritores e as escritoras aqui apresentados e celebrados fazem da letra corpo e do corpo letra, tessitura, texto, voz, invenção, criação, expressão, ativismo e luta. Inscrevem-se no mundo, com sua assinatura única, e o escrevem/reescrevem, apresentam/reapresentam, inventam/reinventam para que todas as pessoas possam existir.
 
Agradecemos, especialmente, a participação de Fernanda e Carol nesta edição da Coluna, leitoras queridas, participantes da Prosa Poética, realizada todas as terças-feiras na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. 

Comemorem conosco! Boa leitura!

Érica Lima
Técnica de Literatura – Centro Cultural Salgado Filho
 


RESENHA: DANIELLE, ASPERGER

Escrito por Sophia Mendonça aos 14 anos, o livro “Danielle, Asperger”, publicado pela editora Manduruvá, narra a jornada de uma adolescente que procura compreender-se e encontrar seu lugar no mundo.

Esta é apenas uma dentre as várias obras da escritora mineira Sophia Mendonça, uma mulher trans e autista, ativista pela visibilidade das pessoas autistas e responsável, juntamente com sua mãe, pelo canal no Youtube “Mundo Autista”.

A obra faz um passeio pelo cotidiano de Danielle, uma jovem autista ou Asperger - nomenclatura antes utilizada para designar pessoas com transtorno do espectro do autismo de alto funcionamento. 

Danielle é fã da novela “Vida de Cinderela” e, especialmente, da atriz Sabrina Andrade. Como grande parte dos adolescentes e com uma boa pitada do hiperfoco típico das pessoas autistas, a jovem passa horas pesquisando sobre a vida da atriz e assistindo aos episódios da novela, até mesmo decorando as falas.

A vida de Danielle segue seu curso com os típicos conflitos da adolescência, até que um concurso de redação abre para a jovem a possibilidade de conhecer pessoalmente Sabrina, seu grande ídolo. Vale ler a obra para descobrir como foi esse tão esperado encontro.

A autora desenvolve o romance adolescente com grande desenvoltura e vocabulário simples, tornando a leitura agradável e fluida, mesmo quando a protagonista passa por situações difíceis, como problemas no convívio familiar e social, crises, depressão e ansiedade.  

Fernanda Fernandes Milagres
Integrante da Prosa Poética BPIJBH

RESENHA: EXPLORAÇÃO SENSUAL E CELEBRAÇÃO DA DIVERSIDADE: UM OLHAR SOBRE O LIVRO “ERÓTICA: VERSOS LÉSBICOS”

Na celebração da luta LGBTQIAPN+ é importante destacar a diversidade em todas as suas formas, incluindo expressões artísticas. O livro de poemas eróticos que tenho o prazer de resenhar é uma obra feita por 80 poetas lésbicas e bissexuais, publicado pela editora Tucum. As narrativas ousam explorar a sensualidade e o desejo através das palavras. O livro oferece uma visão corajosa e inclusiva da sexualidade, celebrando a riqueza e a complexidade das experiências, destacando-se pela abordagem poética da sexualidade. 

As autoras demonstram habilidade em explorar o corpo, a sensualidade e o desejo de forma sensível e artística. Tanto explicitamente como com metáforas e linguagem sensual, os poemas capturam a emoção e a intensidade dos momentos íntimos, celebrando a experiência humana de maneira autêntica.

O livro não se limita a uma única visão da sexualidade, na verdade são 80 perspectivas, abraçando a diversidade própria de cada poeta. Assim, eu como leitora,  senti-me encantada e envolvida com toda essa linguística divergente e sensual.

Há um poema, de Nina Maria, que encontrei alguns trechos que descrevem bem essa sensação: “Sou tempestade,/vendaval,/ tsunami e terremoto/ porque não vou conter minha intensidade por você/.../eu entendo/ compreendo,/ não julgo/ a sociedade não está preparada/ para a força e o poder de/ das mulheres se amando” (p.29).

Vejo o mundo mudando, aos poucos, mas já vejo avanços. Percebo neste livro uma possibilidade incrível de trazer ao mundo, não só uma visão do que é erótico para o grupo LGBTQIAPN+, mas para todos. Uma visão de mulheres com muito amor, sensualidade e erotismo. Inclusive, um poema que me marcou: o cântico hebraico, de  Rivka Ramos Mendes.

Acho esse livro uma escolha oportuna e significativa para ser comentado hoje, ao destacar a sexualidade e o desejo de querer, de ser desejada, de aceitar a si mesma e à outra. A obra reafirma a importância da visibilidade e do orgulho LGBTQIAPN+. Além disso, a abordagem artística literária amplia o diálogo sobre a sexualidade, desafiando o estigma e promovendo a aceitação. O livro é um lembrete poderoso de que a expressão escrita pode ser uma forma de ativismo de comemoração das identidades e experiências.

Recomendo a todas as pessoas esta obra maravilhosa, com visões eróticas feitas por mulheres que amam mulheres - uma experiência poética que desafia e celebra a riqueza feminina.


  Ana Carolina Macedo Barbosa
Escritora, poeta, professora de yoga, acupunturista e reikiana
Integrante da Prosa Poética BPIJBH

PERFIL LITERÁRIO - JOMAKA

Foto Jomaka - perfil (Luísa Lagoeiro)Jomaka – poeta belorizontino  –   tem trajetória artística singular na cena literária da cidade, incorpora a luta antimanicomial e pelos movimentos LGBTQIAPN+ em sua produção artística. Auto define-se como poeta antimanicomial, artista da cena, performer e agitador cultural.

Escreveu o livro de poesia “Generalidades ou Passarinho Loque Esse”, vol.1, publicado pela editora Impressões de Minas. A publicação é o primeiro volume da coleção “Ouvido Falante”, cujos poetas apresentam suas produções artísticas a partir da performance oral em diferentes espaços coletivos da poesia falada – Saraus, Slam’s e Rodas de Poesia. Tem ainda textos publicados em antologias, revistas e coletâneas, como “Solilóquio e outras formas de encurtar distâncias", publicado pela editora Venas Abiertas.

Em 2019, organizou a Coletânea Academia TransLiterária pela editora Marginália para celebrar os três anos de existência do coletivo. Quando falamos de arte, no caso de Jomaka, não falamos apenas da literatura. Avesso a qualquer binaridade, JoMaka é plural: pesquisador, tradutor, revisor e palestrante. Sua escrita é potente e vivaz, como deixa ver o poema “Intersexo”, publicado no periodico eletrônico “Ruído Manifesto”: 
 
INTERSEXO 

algumas vezes eu disse do buraco 
nenhum a mais ou a menos buracos no corpo
eu dizia dos buracos de dentro 
sobre aqueles que eu fazia perguntas
sobre os buracos de respostas
escondidas 
 
algumas vezes eu disse do buraco 
outras vezes eu caí 
buraco fundo 
buraco adentro 
refém de um silêncio 
ou de vários

Para além da literatura, Jomaka tem publicados roteiros e textos dramatúrgicos. Em breve, lançará o volume 2 da trilogia coleção “Ouvido Falante”:  “Embreagencer”, da editora Impressões de Minas. Quer conhecer mais sobre a obra do poeta? Acesse no site

Daniela Figueiredo
Gerente da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte BPIJBH