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Divulgação

Mostra de Culturas Indígenas apresenta: "COLETIVA - Intervenção Digital com Arte Indígena Contemporânea"

Abrindo a Mostra de Culturas Indígenas, o Circuito Municipal de Cultura apresenta "COLETIVA - Intervenção Digital com Arte Indígena Contemporânea" que traz, por meio de montagens virtuais, obras de diversos artistas aplicadas sobre fotografias das ruas de Belo Horizonte com nomes que referenciam os povos indígenas brasileiros. O Circuito Municipal de Cultura é realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e pela Fundação Municipal de Cultura (FMC), em parceria com o Centro de Intercâmbio e Referência Cultural (CIRC). 

Projeto da artista visual e pesquisadora mineira Aline Xavier, o trabalho apresenta resultados do curso "Caminhos da Arte Indígena Contemporânea", realizado em 2020, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. O artista indígena Jaider Esbell (da etnia Makuxi, de Roraima) e a antropóloga mineira Paula Berbert, que ministraram o curso, assinam a curadoria junto a Aline Xavier. Para a Mostra de Culturas Indígenas, obras foram reproduzidas digitalmente em tradicionais endereços da cidade, como a Rua dos Guajajaras e a Rua dos Timbiras. 

Ates de conferir as obras, leia o texto curatorial assinado por Aline Xavier, Jaider Esbell e Paula Berbert.

"COLETIVA - Intervenção Digital com Arte Indígena Contemporânea"

A arte nos permite cruzamentos, aberturas, passagens entre mundos. É também um lugar de fabulação, de proposição de outros mundos possíveis. "COLETIVA - Intervenção Digital com Arte Indígena Contemporânea" é resultado de um exercício de deslocamento e imaginação, de lançar outra mirada sobre o mesmo horizonte. Propomos um percurso pelo circuito de ruas do centro de Belo Horizonte ao inserir digitalmente obras de artistas indígenas sobre muros, fachadas, empenas, esquinas, portões, bancas de revista. A proposição associa livremente os trabalhos selecionados a lugares da paisagem urbana da capital mineira, sem recortes temporais ou correspondências temáticas, chegamos em algo como um ensaio visual. Experimentamos colagens feitas com trabalhos dos artistas indígenas convidados e fotografias da região central de Belo Horizonte com vistas a sondar outras relações entre a arte e os espaços urbanos, ao mesmo tempo em que sublinha-se a presença ancestral e contemporânea dos povos indígenas, de suas cosmovisões e manifestações expressivas.
 
O trabalho de Denilson Baniwa, afirma sobre o edifício Rio Negro na rua dos Tupinambás: “Belo Horizonte terra indígena”. O "Tatu", pintura de Ailton Krenak, repousa sobre uma marquise modernista de um edifício da cidade, na rua dos Guajajaras. Em posição de vigília está o retrato de um jovem Xakriabá feito por Edgar Kanayko, inserido na Rua dos Guaranis. As serigrafias de Gustavo Caboco foram montadas verticalmente, plantando bananeira sobre a empena vermelha da rua dos Caetés. Na esquina dos Goitacazes somos recebidos por “Mahsã Numiô: abraço das mulheres”, de Daiara Tukano, na rua dos Tupis pelas mulheres “Mulheres Xikrin”, de Arissana Pataxó e na rua dos Carijós pela “Yushã Kuru - A mulher sábia que transformou em medicina para curar seu povo”, de Rita Dani Huni Kuin. Em conversa com Rita, ela disse: “Gosto muito de fazer as pinturas que faço, porque além de pintar as histórias do meu povo, eu estou ali também fazendo a minha terapia. Viajo na minha imaginação enquanto estou fazendo as minhas pinturas”. 
 
Sabemos que a toponímia, ou ação de nomear os lugares, é uma forma de discurso e também um exercício de poder. Em Belo Horizonte, estes sentidos foram ditados desde o traçado original da cidade, no final do século XIX, início do XX, quando o ideal integracionista declarava que os povos indígenas estariam destinados à assimilação pela sociedade nacional. Se alguns dos povos que dão nome às ruas do centro foram de fato extintos, isso é resultado de mais de 500 anos de genocídio. Mas, como afirma Jaider Esbell, “os povos extintos continuam, o que fazemos [os artistas indígenas] são atos contínuos de transitares no mundo ou nos mundos material e extrapolado” . 

A arte pode ser, portanto, uma forma de cultivar a memória da resistência indígena e de celebrar a presença, a beleza e a diversidade contemporânea dos povos originários. Assim, imaginar conexões entre a arte indígena e a paisagem urbana, pode ser uma pequena fagulha para que os moradores de Belo Horizonte modifiquem seus afetos com estas ruas, passando a se relacionar também com as narrativas evocadas por seus nomes.

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Paula Berbert e Jaider Esbell ministraram o curso “Caminhos da arte indígena Contemporânea” no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Aline Xavier foi aluna do curso e este ensaio foi produzido neste contexto.
 
Somos gratos pela cessão de imagem e participação dos artistas Ailton Krenak, Arissana Pataxó, Daiara Tukano, Denilson Baniwa, Edgar Kanaykõ, Gustavo Caboco, Isael Maxakali, Jaider Esbell e Rita Huni Kuin.

O registro fotográfico da obra Tatu (2000-2003) de Ailton Krenak, é de Isabella Matheus e foi cedida pela Pinacoteca de São Paulo.
 
A captação e edição dos registros fotográficos das ruas foi realizado por Aline Xavier e Tamás Bodolay.
 
A produção desta intervenção digital foi realizada pelo Circuito Municipal de Cultura e 88 Arte Contemporânea, em Abril de 2021 em Belo Horizonte, MG, Brasil.

 

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Rua dos Tupinambás | Denilson Baniwa | Belo Horizonte Terra Indígena (2019) Ilustração digital 


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Rua dos Aimorés | Arissana Pataxó | Indígenas em foco (2016) Acrílica sobre tela 



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Rua dos Timbiras | Isael Maxakali | Sem título (2017) Desenho 


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Rua dos Guajajaras | Ailton Krenak | Tatu (2000-2003) Urucum tinta acrílica e tinta óleo sobre eucatex (otografia da obra: © Pinacoteca de São Paulo/Isabella Matheus)
 

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Rua dos Guaranis | Edgar Kanaykõ | Povo Xakriabá em monitoramento do território, fotografia (2019)


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Avenida dos Oiapoque | Jaider Esbell | O anúncio do dilúvio (2020) Posca e acrílica sobre tela

 

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Rua dos Guaicurus | Rita Dani Huni Kuin | Kene Huni Kuin (2021) Acrílica sobre tela


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Rua dos Caetés | Gustavo Caboco | Bananeira é autonomia 1, 2 e 3 (2018) Serigrafia


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Rua dos Tupis | Arissana Pataxó | Mulheres Xikrin (2018) Técnica mista sobre tela
 

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Rua dos Carijós | Rita Dani Huni Kuin | Yushã Kuru - A mulher sábia que transformou em medicina para curar seu povo (2021) Acrílica sobre tela
 

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Rua dos Goitacazes | Daiara Tukano | Mahsã Numiô: abraço das mulheres (2020) Aquarela e nanquim sobre papel


Sobre os artistas

Ailton Krenak (Vale do Rio Doce - MG, 1954) é líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro. Recebeu o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, oferecido pela União Brasileira de Escritores (2020) e o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2016). Aos dezessete anos de idade, mudou-se com sua família para o estado do Paraná, onde se alfabetizou e se tornou produtor gráfico e jornalista. É fundador da organização não-governamental Núcleo de Cultura Indígena (1985 - atual), que realiza na região da Serra do Cipó (MG) o Festival de Dança e Cultura.  Através de emenda popular, garantiu sua participação na Assembleia Nacional que elaborou a Constituição Brasileira de 1988. Em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta, cujo objetivo era o estabelecimento de reservas naturais na Amazônia onde fosse possível a subsistência econômica através da extração de produtos naturais. 

Arissana Pataxó (Porto Seguro - BA, 1983) artista visual e professora, filha de Meruka e de  Wilson (em memória) com quem aprendeu a desenvolver as primeiras experiências  com a  arte. Em 2005, ingressou no curso de Artes Plásticas na UFBA, ano em que  também começou a participar de algumas exposições em Salvador. Em 2007 realizou sua primeira exposição individual no Museu de arqueologia e etnologia- MAE- UFBA e a partir de então, vem participando de diversas exposições e projetos artísticos no Brasil. É vencedora do prêmio Pipa Online 2016. Suas obras, criadas em diversas técnicas e suportes, reflete as suas  vivências, memórias  junto ao seu povo e outros povos indígenas. Como professora, atua na educação básica e desenvolve atividades com formação de professores indígenas. 

Denilson Baniwa (Barcelos - AM, 1984) é artista-jaguar natural do Rio Negro, interior do Amazonas. Seus trabalhos expressam sua vivência enquanto Ser indígena do tempo presente, mesclando referências tradicionais e contemporâneas indígenas e se apropriando de ícones ocidentais para comunicar o pensamento e a luta dos povos originários em diversos suportes e linguagens como canvas, instalações, meios digitais e performances. Em 2019, foi indicado ao Prêmio Pipa, e venceu a categoria online do Prêmio. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e no mundo. 

Daiara Tukano é artista, ativista, educadora e comunicadora. Mestre em direitos humanos pela Universidade de Brasília - UnB, é também coordenadora da Rádio Yandê, primeira web-rádio indígena do Brasil. Daiara Hori, nome tradicional Duhigô, pertence ao clã Uremiri Hãusiro Parameri do povo Yepá Mahsã, mais conhecido como Tukano. Nasceu em São Paulo e tem como fundamentação do seu trabalho artístico uma pesquisa sobre história, cultura e espiritualidade do seu povo.

Edgar Kanaykõ (Terra Indígena Xakriabá - MG, 1990) é fotógrafo pertencente ao povo indígena Xakriabá. É mestre em Antropologia pela UFMG e tem atuação livre na área de Etnofotografia: “um meio de registrar aspecto da cultura – a vida de um povo”. Ele utiliza a fotografia como ferramenta de luta, revelando ao mundo a realidade sobre os povos indígenas.

Gustavo Caboco (Curitiba, 1989) é artista wapichana. A caminhada de retorno à origem indígena guia sua produção nas artes visuais. Nasceu em um ambiente urbano ouvindo as histórias de sua mãe sobre sua família, cultura e a paisagem ancestral do lavrado roraimense. Encontrou no desenho, na pintura, no texto, no bordado, na animação e na performance maneiras de pensar sobre os deslocamentos dos corpos indígenas e nossas formas de (re)conexão com os territórios originários. Com seu trabalho busca dialogar com as contemporaneidades indígenas, tratando de questões referentes à constituição das identidades e do cultivo da memória. Primeiro "retorno à terra" Wapichana (2001). Foi vencedor do Concurso FNLIJ Tamoios de Textos de Escritores Indígenas (2018) com o texto "Semente de Caboco", publicou seu primeiro livro "Baaraz Kawau - O campo após o fogo" no Museu Paranaense e na Casa Amarela de Cultura Coletiva (SãoPaulo, 2019), participou da Exposição ‘VAIVÉM’ no CCBB (2019), indicado ao 3o Prêmio seLecT de Arte e Educação (2020) e artista participante da 34o Bienal de São Paulo (2021).

Isael Maxakali (Aldeia Nova, município de Ladainha – MG) é artista, cineasta e liderança indígena. Realizou inúmeros filmes, como os recentes Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa e Yãmiyhex: As Mulheres-Espírito, em suas palavras, "para as pessoas de todos os lugares assistirem e saberem que nós, os Tikmū’ūn, existimos. Eu também gosto muito de fazer desenhos dos bichos, dos peixes, dos espíritos yãmĩyxop e de outras coisas também. Eu penso que, com o meu trabalho, eu cresço e fortaleço os Tikmū’ūn. Se eu fico conhecido, eles ficam também." Fonte: Prêmio Pipa Online 2020, de que Isael foi artista vencedor.

Jaider Esbell (Normandia-RR, 1979) é indígena Makuxi da TI Raposa - Serra do Sol. Foi alfabetizado em casa. Concluiu o ensino médio em 1997. Mudou-se para Boa Vista em 1998 onde vive e mantém a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea. Seu trabalho repercute no Brasil e no exterior. Sua carreira profissional iniciou em  2009 com a Bolsa Funarte/Minc de Criação literária. O produto é a obra literária Terreiro de Makunaima – Mitos, lendas e estórias em vivências. Pelo conjunto da obra, foi indicado ao Prêmio PIPA em 2016, onde venceu na categoria on-line. Sua trajetória compreende diversas linguagens artísticas. Seu portfólio mostra ainda que  é produtor, curador e livre pesquisador do Sistema da Arte Indígena Contemporânea. Escreve e publica na modalidade ensaio. Jaider Esbell é reconhecido como um dos pensadores indígenas mais ativos da atualidade. 

Rita Dani Huni Kuin (erra Indígena Alto Rio Jordão - AC, 1994) registrada pelo nome em português Rita Kaxinawá, jovem mulher indígena, é reconhecida liderança do povo Huni Kuin. Trabalha como artesă e pintora e cursou pedagogia. Sua trajetória envolve também o trabalho de articulação política e social através de sua atuação individual e do coletivo Kayatibu. É filha de um dos principais pesquisadores e artista Huni Kuin, Ibã Sales Huni Kuin, criador do grupo artístico MAKHU que une pintura, estórias e cantos e tradicionais. Rita participou da elaboração da exposição e do Livro UNA SHUBU HIWEA, no Itaú Cultural. Em suas palavras: "Comecei a lutar e sempre quero lutar. Quero fazer algo que seja importante para todas as mulheres, independente da cor e da raça. Levar o trabalho do grupo e da juventude para buscar melhorias para as futuras gerações. Hoje vivo entre a cidade e a aldeia e sou uma mulher que luta pelo direito de todos."


Sobre os curadores

Aline Xavier (Belo Horizonte, 1984) é artista brasileira. O seu trabalho é movido pela crítica à sociedade atual e à urgente necessidade de reinventar a nossa relação com o mundo. Especialista em Curadoria e Crítica de Arte Contemporânea (PUC-MG e Centro de Arte Inhotim, 2010) e Bacharel em Comunicação Social (UFMG, 2006). Entre os seus prêmios estão o 19o Prêmio Videobrasil (2015) e o Prêmio Foco Bradesco ArtRio (2018). É parte da rede de cineastas emergentes Berlinale Talents e de residências artísticas como Akademie Solitude Fellowship (Alemanha, 2022), Instituto Sacatar (Bahia,2019), Kooshk Residency (Irã, 2016). Participou de exposições e festivais nacionais e internacionais. Foi uma das curadoras e fundadoras do Marginalia+Lab (2009-12) -  laboratório independente de arte e tecnologia e da 88 Arte Contemporânea (2006-atual) - produtora de arte e cinema. 

Jaider Esbell (Normandia- RR, 1979) é indígena Makuxi da TI Raposa - Serra do Sol. Foi alfabetizado em casa. Concluiu o ensino médio em 1997. Mudou-se para Boa Vista em 1998 onde vive e mantém a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea. Seu trabalho repercute no Brasil e no exterior. Sua carreira profissional iniciou em  2009 com a Bolsa Funarte/Minc de Criação literária. O produto é a obra literária Terreiro de Makunaima – Mitos, lendas e estórias em vivências. Pelo conjunto da obra, foi indicado ao Prêmio PIPA em 2016, onde venceu na categoria on-line. Sua trajetória compreende diversas linguagens artísticas. Seu portfólio mostra ainda que  é produtor, curador e livre pesquisador do Sistema da Arte Indígena Contemporânea. Escreve e publica na modalidade ensaio. Jaider Esbell é reconhecido como um dos pensadores indígenas mais ativos da atualidade. Foto de Marcelo Camacho

Paula Berbert (MG) é antropóloga e produtora cultural. Faz doutorado no Programa de Pós-graduação em Antropologia da USP, onde realiza pesquisa sobre arte indígena contemporânea. Atua nos campos da curadoria e mediação intercultural, articulando projetos junto a artistas e cineastas indígenas. Tem experiência em comunidades pedagógicas formais e não-formais, especialmente nos temas da arte-educação, dos direitos humanos e socioambientais, das questões indígenas e feministas. É mestre em Antropologia (2017, UFMG) e especialista em Estudos e Práticas Curatoriais (2019, FAAP).