O FIT-BH 2024 enxerga o teatro enquanto um patrimônio imaterial capaz de conectar tempos, espaços e memórias. As pontes nos levam de um lugar ao outro, possibilitam o encontro com o outro, atravessam fronteiras, as pontes são como os sonhos. Sabendo que o direito a ter memória está diretamente relacionado com as relações de poder, saber e ser, é preciso olharmos com criticidade as memórias coletivas que permeiam nosso imaginário social, cultural, artístico e estético. Quais culturas, visões de mundo e subjetividades são lembradas? Quais esquecidas? O que está em jogo no esquecimento? O teatro é a arte da partilha de politicidades sensíveis, com força para intervir no mundo das palavras, das imagens e das sensibilidades, por meio exatamente das palavras, das imagens, das sensibilidades e das possibilidades de re-criação. Como o teatro pode pensar a memória produzida no agora?
Entendendo a memória não somente como manutenção acrítica do passado, mas como possibilidade de fabulação do que queremos no presente e esperamos no futuro, interessa à curadoria pensar a memória como invenção, como ferramenta para desconfiar de histórias e imagens icônicas, desarmar certezas mais do que oferecer verdades. Nesse sentido, quais memórias, que não devem jamais serem esquecidas, o teatro pode inventariar? O FIT-BH 2024 volta o seu olhar para obras implicadas na retessitura da memória sociocultural brasileira, em que se tem, agora, a presença de múltiplas culturas, visões de mundo, geografias, corpos, espacialidades, vozes e subjetividades, reconfigurando não somente as memórias sociais, mas também a própria ideia de teatro.