O Teatro Marília recebe o espetáculo "Pai", de Glicério do Rosário
Como nasce um pai? Um ator interpreta três personagens, numa relação dialética sobre a paternidade: um MC, que sintetiza no Rap os conflitos das personagens Ivan, um professor, e Mateus, um ator - pais em conflito sobre seu lugar social. A montagem traz o tom urbano do Rap, sua força e coerência na busca por relações sociais menos desiguais, colocando em cena a potência do afeto de cuidar.
Ivan, um professor de história, pai de uma filha adotiva, descrente de qualquer possibilidade de resolução por meios democráticos, devido à corrupção generalizada, lidera um grupo que pretende explodir a Esplanada dos Ministérios. Em meio às reuniões virtuais de motivação e organização do ato, vê-se na necessidade de dispensar cuidados à filha e percebe-se envolvido num afeto que não experimentara até então. Percebe-se pai, no sentido mais amplo que poderia conceber, e vê-se no dilema da escolha entre a guerrilha e a paternidade.
Mateus, um ator, pai de dois filhos, integra a roda de pais da Paternidade Ativa. Entusiasta e incentivador da roda, aos poucos vai percebendo como esse grupo é seletivo, pouco sociabilizado. Descontente em constatar que a maioria dos pais na sociedade não têm acesso ao que essa roda propicia de reflexões e mudanças comportamentais, tenta influenciar os pais da roda a ampliar suas ações, para mais pessoas, para mais espaços. Percebe-se revoltado com os rumos políticos e excludentes do país e, inclusive, da sua própria roda.
O Narrador-MC vai mostrando o desenvolvimento dos dois percursos. Vemos a história de Ivan e Mateus se entrelaçarem, se contaminarem e acompanhamos, também, o desenvolvimento do discurso do Narrador-MC, de alertar o Estado sobre os riscos de sua omissão.