Coluninha Literária
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COLUNINHA LITERÁRIA DA BPIJ/BH

LIVROS PARA BRINCAR                                                                             5ª EDIÇÃO/2024

 

APRESENTAÇÃO

Chegamos à quinta edição da Coluninha Literária. É com muita alegria que escolhemos o tema “livros para brincar”. Como muitas pessoas que atuam na pesquisa dos brinquedos e brincadeiras, consideramos o ato de brincar coisa séria e tratamos com a maior responsabilidade o tema.


As crianças aprendem brincando. Elas constroem seu conhecimento através de brinquedos e brincadeiras. Cantigas de roda, jogos de linguagem, quadrinhas, adivinhas são algumas das expressões da cultura da infância. O faz-de-conta é outra forma que as crianças têm de encarar o mundo e a vida. Através dele, uma situação é simulada e a criança então adentra o mundo da fantasia, da imaginação, onde pode experimentar hipóteses e aprender, construir conhecimento novo através dessa simulação.


Outro aspecto muito presente na infância é a exploração do mundo. Através dessa exploração, a criança produz sentidos que vão se agregando a seu repertório, de forma a criar uma cadeia de referências que serão usadas nas brincadeiras de faz-de-conta e no dia a dia. Sendo assim, explorar o mundo e suas descobertas faz parte da maravilhosa experiência que é ser criança.


Fato é que o livro em si é um objeto para ser explorado. Por que não também transformá-lo em um brinquedo? Artistas de várias partes do mundo encaram o desafio, produzindo obras maravilhosas, explorando aspectos diversos da materialidade do livro.


Para exemplificar essas iniciativas, apresentamos como primeira resenha “Sem título”, de Hervé Tullet. Uma obra lúdica e interativa, que nos convida a explorá-la. Em seguida, a resenha do livro “E você?”, da talentosíssima escritora e ilustradora brasileira Rosinha. Nesse livro, temos o resgate de uma brincadeira infantil como mote para o exercício do olhar atento. Fechamos então com o perfil literário da escritora e ilustradora Renata Bueno. Criadora das coleções “Desmontando” e “Não é a mesma coisa”, além de outras obras, Renata também ilustrou textos de outros autores.


Esperamos que esta edição da Coluninha Literária possa servir de referência para mães, pais, educadoras e educadores, além de demais profissionais da mediação da leitura. Que a experiência de conhecer os livros resenhados e o perfil literário seja tão divertida para leitoras e leitores quanto foi para nós! É importante ressaltar que os livros indicados nesta edição estão disponíveis para empréstimo na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte.

 

Samuel Medina
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte

 


 

 

RESENHA: O PROCESSO CRIATIVO COMO JOGO

Abrimos o livro “Sem título”, de Hervé Tullet, editora Cia. das Letrinhas, e logo nos deparamos com duas personagens brincando de bola. Elas olham para fora e percebem nossos olhares. Começa então um diálogo bem-humorado em que outras personagens são convidadas a participar. Eis, porém, o problema: o livro não está pronto! Atrapalhadas, as personagens buscam ideias para nos entreter. Acham que nenhuma dá certo. Até que alguém sugere chamar o autor. Será ele capaz de resolver esse problemão até o final do livro? 
“Sem título”é um metalivro. Convidando leitoras e leitores a assumirem uma postura dialógica, a obra do autor francês cria um ambiente lúdico e interativo. Por toda a página, vemos borrados, rabiscos, marcas de tinta. As ilustrações buscam simular a singularidade das infâncias, com traços simples e borrados, mas também refletem o processo criativo do rascunho. 


Os aspectos dialógico e lúdico perpassam todo o livro. O próprio autor, Hervé Tullet, se insere na obra, com fotografias de seu rosto e o corpo todo desenhado. Caras e bocas foram fotografadas para dar maior expressividade à imagem do autor, que dialoga tanto com leitores quanto com personagens. 
A materialidade do livro é evocada a todo o tempo, numa metalinguagem recorrente. A proposta da ludicidade da obra torna o livro uma espécie de brinquedo, embora não deixe de existir como objeto com recursos narrativos. Há uma linha narrativa que vai desde que o livro é aberto e se encerra em sua última página, fazendo também uma referência ao seu início.


“Sem título” é uma obra criativa e interessante, que evoca a materialidade como um convite para brincar. E encoraja cada criança a produzir também suas narrativas, com personagens diferentes, marcas de tinta e rabiscos. Um convite à exploração da criatividade infantil.


Nós, leitoras e leitores adultos, também podemos nos lançar na brincadeira, produzindo nossas ilustrações sem nos preocuparmos com o apuro estético que muitas vezes podem nos inibir a criar.


Hervé Tullet, portanto, cria uma obra de uma simplicidade genial. Com certo grau de coragem e ousadia, ele nos mostra que podemos, também, explorar nossas ideias para produzir narrativas. Assim como outras de suas obras, “Sem título” não é apenas para ser lido, mas também explorado em sua totalidade.

 

Samuel Medina
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte


 



RESENHA: E VOCÊ?

"E você?", da editora Jujuba, escrito e ilustrado por Rosinha, é um livro que proporciona excelentes experiências leitoras. Trata-se de uma criança que olha por uma janela. E o que ela vê? Com seus olhinhos ela vê vários bichos, elefante, cavalos-marinhos, passarinhos… De um  jeito divertido, as ilustrações instigam  o leitor a observá-las com atenção  até localizar os elementos que o texto apresenta. Tem muita coisa para observar em cada dupla de páginas. É um livro surpreendente!


A obra também se destaca pela delicadeza da narrativa textual, toda ela rimada. A partir da primeira frase “eu vejo com meus olhinhos” (p. 3)  passarinhos / ninhos / vizinhos / adivinhos. Depois da leitura do livro, é possível inserir elementos da narrativa nas conversas do dia a dia com o bebê: eu, mamãe, vejo com meus olhinhos… um pezinho / o narizinho / um beijinho. Esta relação entre o livro e o nosso cotidiano é a chave para a criança compreender as inúmeras contribuições que a leitura pode nos trazer, ou seja, o quanto as histórias podem enriquecer nossas ações, pensamentos e sentimentos. Nossa maneira de enxergar e lidar com as coisas pode ser transformada pelo texto da Rosinha que sem dúvida alguma, vai tocar o leitor com sua poesia.


O final não poderia ser melhor: um delicioso convite para o leitor se aproximar de uma janela para olhar a paisagem e dizer o que, com seus próprios olhinhos, ele vê… Uma leitura que pede imaginação, criação, liberdade.


Apresentar este livro para pequenos leitores é um compromisso para ajudá-los a construirem uma relação de prazer com a leitura!

Flávia Paixão
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte
 



 




PERFIL LITERÁRIO: RENATA BUENO

Renata Bueno é arquiteta, artista plástica, ilustradora e autora de diversos livros infantis. Serigrafia, escultura, desenho, colagem, carimbos, são algumas das técnicas utilizadas por ela para contar o mundo, reinventando-o. Publicou livros pelas principais editoras brasileiras além de títulos traduzidos e editados em Portugal, França, Espanha, China e Coreia do Sul. Paralelamente, ela mantém os seus trabalhos em artes visuais, que, em comum com seus livros, também são inspirados por elementos que os vinculam ao universo das crianças.


Em 2014, foi a única brasileira selecionada para participar da VI Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, Ilustrarte 2014. Em 2013, recebeu o prestigiado Prêmio Jabuti.


Com livros como “Desmontando a Anta”, Renata propõe uma leitura lúdica e interativa. A linguagem é leve e descontraída, sendo explorada em sua materialidade. Trata-se de uma coleção com outros títulos tão bem-humorados e interessantes quanto o primeiro. Estamos falando da coleção “Desmontando”, onde Renata explora a musicalidade e versatilidade das palavras de forma a fazer um jogo poético. As ilustrações são expressivas e repletas de texturas, mas também brincam com os espaços vazios, com linhas e traços simples, mas que carregam a complexidade de uma boa ilustração.


Para a revista Educação, Renata conta como seus livros são “livros brinquedos”, obras “que provocam uma brincadeira”. Sendo assim, os trabalhos literários de Renata Bueno são um convite para o brincar, para a exploração dos aspectos lúdicos da linguagem, num jogo de espelhamentos e sentidos embaralhados, com ilustrações expressivas.


Para conhecer mais do trabalho de Renata Bueno, basta acessar seu site http://renatabueno.art.br/.

Flávia Paixão e Samuel Medina
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte