De Belo Horizonte pra China: uma travessia de sabores e histórias
Tem coisa mais mineira que transformar afeto em comida? Belo Horizonte está cruzando o mundo pra mostrar isso na prática. A capital mineira foi convidada a participar do “International Cities of Gastronomy 2025”, que acontece em Macau, na China, reunindo destinos reconhecidos pela Unesco como Cidades Criativas da Gastronomia. E não é só uma participação protocolar, não. É presença de corpo e alma, com sotaque, história e receita boa pra contar.
Até 20 de julho de 2025, Belo Horizonte será representada por três lugares que sabem bem o que é misturar tradição e inventividade: A Porca Voadora, o Bar da Lora e a Uaiê Sorveteria. Três pontos bem diferentes entre si, mas que compartilham o mesmo cuidado em transformar ingredientes em lembranças boas. Ao lado deles, uma participação especial que promete emocionar o público: a chef Carolina Dini vai subir ao palco do evento para mostrar como ervas e temperos podem contar histórias de um Brasil profundo, cheio de raízes e alma.
Cozinha mineira com passaporte carimbado
Macau pode parecer longe no mapa, mas tem coisa ali que nos aproxima. O idioma é o mesmo e o tempero afetivo, também. A cidade chinesa faz parte da mesma Rede de Cidades Criativas da Unesco na categoria Gastronomia que Belo Horizonte integra, e esse encontro gastronômico é, na prática, uma ponte entre culturas, aquela que todos entendem, a feita à mesa. A ideia do festival é exatamente essa: celebrar as singularidades de cada território por meio da comida, criando diálogos possíveis entre povos.
E Belo Horizonte chega chegando, com um time escolhido a dedo. Os três estabelecimentos selecionados não só brilham na cena gastronômica da cidade como também representam com muita fidelidade os sabores que formam a identidade mineira. O convite à capital mineira, feito pela própria organização do festival, cobriu tudo: custos, logística e aquele empurrãozinho para que os sabores mineiros ganhem novos paladares.
Quem vai dar voz, ou melhor, mexer o tacho de cobre com muita propriedade, é a chef Carolina Dini. Mineira, cozinheira de raiz e autora do livro "Me Tempera Que Eu Gosto", ela leva ao evento receitas que são puro afeto transformado em técnica. Farofa pedaçuda de amendoim e banana na manteiga, aromatizada com um mix de especiarias e uma canjiquinha feita com milho crioulo, finalizada com queijo e ervas frescas, são suas apostas para emocionar o público chinês. Cozinha como linguagem ancestral, repleta de identidade e afeto.

Afeto no prato e nos bastidores
Por trás das receitas, tem gente. Tem memória. E tem um jeito mineiro de fazer tudo com calma e com afeto. A Porca Voadora, por exemplo, mistura o espírito do armazém com a ousadia de uma cozinha que não tem medo de experimentar. A chef Bruna Rezende brinca com os clássicos mineiros e transforma cada petisco em experiência. O jiló empanado recheado com pernil já é um clássico da casa, e a língua com purê de batata é daqueles pratos que dão vontade de bater palma depois da última garfada. É aquele tipo de lugar que não serve só comida, mas conversa boa, descoberta e aconchego.
Já o Bar da Lora é outra história: daquelas que viram lenda. Fundado em 1973, dentro do Mercado Central, o bar já passou por muitas mãos, mas foi com Eliza Fonseca, a Lora, que ganhou alma de verdade. Primeira mulher a comandar um bar no Mercado, ela virou referência com seus petiscos clássicos e atendimento sem frescura. Fígado com jiló, torresmo, carne de panela, cerveja trincando. É Belo Horizonte em estado puro, na chapa, no copo, no atendimento caloroso e no sabor inesquecível.
E tem também o frescor da Uaiê Sorveteria, onde o calor da cidade vira afeto gelado. Pedro Barbosa, o chef por trás do balcão, escolhe ingredientes do Brasil profundo pra criar combinações surpreendentes. Goiabada com requeijão, sorvete de canela com broa, maracujá azedo com leite de coco e coentro. É uma sorveteria que cada receita é pensada como um mergulho nas raízes da culinária mineira e brasileira, feita com insumos frescos, zero aditivos e parcerias com produtores locais. A casquinha de fubá com canela, feita na hora, encerrando com chave de ouro.

Quando a comida vira elo entre mundos
Participar desse festival não é só sobre divulgar a comida mineira. É sobre se afirmar no mundo como um território de cultura, afeto e potência criativa. Belo Horizonte, que já carrega o título da Unesco de Cidade Criativa da Gastronomia, aproveita essa oportunidade para mostrar que gastronomia é também desenvolvimento, geração de renda e conexão real entre pessoas e territórios.
Mais do que vender uma imagem turística, Belo Horizonte se coloca como cidade que sabe honrar suas raízes, mas também se abre ao novo. Como diz Bárbara Menucci, presidente da Belotur, a cozinha belo-horizontina é um território de conexão, tradição e futuro.
No fim das contas, levar a gastronomia mineira pra outro continente é só mais uma forma de fazer o que Belo Horizonte sempre soube fazer: acolher. Afinal, é ao redor da mesa que a vida acontece.

