Com trajetória de 15 anos nas técnicas circenses, além de diversas apresentações em festivais nacionais e internacionais, a Cia Circunstância apresenta, pela primeira vez, em formato de Live, seu mais novo trabalho “Circo de Família”. As apresentações de estreia do espetáculo, que aconteceriam em março no Parque Lagoa do Nado (Pampulha) e na Praça Floriano Peixoto (Centro-Sul), foram canceladas com a chegada da Covid-19 ao Brasil.
Agora, as transmissões serão realizadas diretamente da casa dos artistas, no bairro Concórdia, nos dias 22 e 23 de agosto, sábado e domingo, a partir das 15h, nos canais do Youtube e Facebook: Cia Circunstância: https://www.youtube.com/user/AlegriaTambem. Classificação indicativa: livre.
Duração: 60 minutos.
Segundo Diogo Dias, fundador da Companhia, para os artistas como um todo, que dependem do encontro presencial com o público, o momento é desafiador e exige aprender a se reinventar: “Estamos reconstruindo a linguagem através de uma outra via de comunicação. Experimentar o vídeo e a tela acaba tirando a gente do lugar comum na criação, fora a necessidade de dominar todo um sistema de tecnologias”. O artista alerta que parte dos artistas que dependem da bilheteria ou do chapéu, não têm essa possibilidade: “as políticas públicas de fomento à cultura continuam pouco acessíveis a muitos setores, que ficam inviabilizados. Por exemplo, circos itinerantes sem comprovante de residência ou com dificuldade de acesso ao digital, não conseguem se inscrever nos editais. Acabam fechando seus espaços e os artistas tendem a buscar outras ocupações", ressalta.
Inspirado no cotidiano das famílias circenses de hoje, o espetáculo “Circo de Família” traz, de forma bem-humorada e cheia de trapalhadas, um show de variedades com o casal de palhaços Tica-tica do Fubá (Dagmar Bedê), Alegria Também (Diogo Dias) e o filhote Pirueta Ravioli (Ravi Dias Bedê), de apenas quatro anos. O improviso dita a cena com números de malabarismo, ilusionismo, acrobacia e muita bobagem. A palhaça Adriana Morales que assina a direção ao lado do parceiro do Grupo Trampulim, Tiago Mafra, conta que “o público vai se deliciar com o cotidiano dessa família: o riso, o amor, a maternidade e a paternidade, a inocência, discussões e a luta diária pela sobrevivência da relação amorosa. As preferências, estilos, forças e também fraquezas. Trazer a humanidade, as dores e delícias, algo universal, capaz de conectar qualquer ser humano”, explica
Desta vez, em função da pandemia, o palco não será montado na rua. A transmissão acontece, ao vivo, diretamente de uma pequena área externa da casa dos artistas. “Nosso filho Ravi está conosco em cena, é um desafio. Agora sem público, ainda mais: ele quer apresentar para os bichinhos de pelúcia. Aí explico que é para a câmera. O ritual de chegar na praça, preparar, já traz outro estado para nós. Muda tudo quando você está em casa, sem plateia, e vai fazer para o telefone. É complexo, exige muita concentração”, conta a palhaça Dagmar Bedê.
A também coordenadora da Cia Circunstância acrescenta que apesar do espetáculo fazer referência a números conhecidos do circo e da palhaçaria brasileira, “o diferencial é dar outra roupagem à tradição, começando por considerar a presença feminina na cena, como co-protagonista”, explica a artista, que foi a primeira integrante mulher a passar pela trupe, desde a fundação, em 2004. “Estamos vivendo um período de adequação de conceitos, e isso inclui também a palhaçaria. Tenho refletido sobre a simples reprodução de cenas clássicas do circo: o que é engraçado para mim, hoje, é para o outro? Quais ideias quero incentivar ou transformar? No humor, pode tudo. A questão é como você, artista, aborda e de quem você ri: se é do opressor ou do oprimido”, acrescenta.
“Circo de Família” - Histórico de Montagem
Em 2017 a companhia começou as primeiras pesquisas sobre o tema, a partir de experimentações com o público nas ruas e em praças públicas de Belo Horizonte. Em agosto de 2018, o trabalho estreia na França, com circulação pelo Festival Arts de Rue de Uzerche e pelo Festival International de Theatre de Rue de Aurillac. Em 2019, a Cia Circunstância realiza o projeto Circo de Família, nº 1355/2017 - aprovado no edital 2017 oriundo da Política de Fomento à Cultura Municipal - com patrocínio do Instituto Unimed-BH, que prevê residências artísticas com famílias de circo de Anápolis (GO) e Campinas (SP). Os experimentos surgidos ao longo dos encontros com os grupos Boca do Lixo e Cia1Pede2 foram incorporados ao novo espetáculo. “Fomos trocar processos de criação, técnicas e também colher depoimentos, entendendo como produzem, como sobrevivem e como divulgam sua arte no mundo, construindo assim, novas possibilidades para o espetáculo que agora chega às praças e parques de BH”, explica Diogo Dias.
Em 2020, com a pandemia, foi preciso cancelar a temporada de estreia em Belo Horizonte. “Mas temos o privilégio de ainda sermos artistas, termos nosso espaço, de fazermos nossa arte. Não é isso que vai fazer a gente parar. A alma de artista é isso aí, essa capacidade de transformar-se. E me pergunto: o que posso fazer para continuar, não só sobrevivendo, mas vivendo? Fazer arte está intrinsecamente ligado ao viver”, completa Dagmar Bedê.