Ópera Operária - Uma luz sobre a cultura funk
Dividida em um prólogo e três atos, a peça é inspirada livremente na obra “Revolução na América do Sul”, do dramaturgo carioca Augusto Boal e carrega referências do pensamento e do teatro negro do intelectual paulista Abdias Nascimento. Com dramaturgia assinada pela poeta-slammer Nívea Sabino e por Rogério Coelho, profissional da cena e organizador do Slam Clube da Luta, o texto parte da investigação das relações de trabalho e da potência transformadora do funk enquanto expressão artística e movimento cultural.
O espetáculo, que ganha vida de 4 a 14 de agosto, sempre às 20h, no Teatro Francisco Nunes, conta com onze artistas formandos da Escola de Teatro do Cefart. A turma é a primeira a terminar o curso após a implementação da Política de Ações Afirmativas do Cefart, que destina 50% das cotas a alunos provenientes de escolas públicas, negros ou indígenas.
Toda a equipe contratada para a “Ópera Operária” é composta por negros.
O título “Ópera Operária” vem de uma associação dos motes centrais do enredo com a música que ressoa dentro do espetáculo, que traz trilha sonora inédita, criada especificamente para a peça a partir de estudos de canções ancestrais, afros e, é claro, do funk. O jogo de linguagem presente no nome pretende deslocar o imaginário que a ópera usualmente produz nos indivíduos.
A perspectiva é aproximar a população de uma obra que tem a canção como meio para desenvolvimento da ação, mas que é pensada a partir da cultura que se molda, e se ressignifica, no corpo da sociedade periférica brasileira.
O espetáculo alia elementos épicos aos dramáticos, não tendo uma fábula ou uma narrativa que conduza todos os eventos da peça de forma linear. Numa referência quase direta à obra de Boal, que concebeu a figura do “José da Silva”, a montagem apresenta as várias histórias de “Da Silva”, personagens alegóricos criados pelos dramaturgos para representar a vida, os sonhos e o comportamento dos indivíduos em meio à precarização das condições laborais.
“As alegorias representam o ápice do que o trabalho pode gerar no corpo e na vida dos sujeitos. Elas representam a dor, a loucura, o cansaço, a falta de tempo e do cuidado para si”, explica Rainy Campos, professora da Escola de Teatro do Cefart e diretora da montagem “Ópera Operária”.
Para conceber a dramaturgia, a peça mescla procedimentos de criação do slam e da linguagem teatral. Por meio de práticas de escrita, os estudantes também participaram da criação da peça, sendo provocados a produzirem textos relacionando o universo temático do espetáculo com suas próprias vivências e histórias de vida.
“O processo criativo, de desenvolvimento da montagem, foi mais um aprendizado do curso. Fomos instigados a realizar alguns exercícios por meio da escrita como forma de elaborar as nossas próprias relações com o trabalho. Trouxemos aquilo que era particular para o coletivo e isso nos permitiu adentrar ainda mais nos problemas que circundam o tema”, conta Augusta Barna, formanda da Escola de Teatro do Cefart e uma das atrizes do elenco de “Ópera Operária”.
Manifestação cultural da classe operária, da população brasileira periférica, a poesia slam e o funk permeiam toda a montagem do espetáculo. “Essas duas manifestações da arte e da cultura tem chegado em todos os cantos. Elas pulsam nas esquinas, nas ruas, nos bairros. Entendemos que o funk, pelo seu grande alcance, pode gerar uma transformação cultural ainda mais potente, ser um impulsionador de uma revolução pelos corpos, pela sonoridade”, aponta Rainy.
Entrada gratuita - Ingressos devem ser retirados por meio do site fcs.mg.gov.br