A Ananda Cia. de Dança Contemporânea estreia o espetáculo “Bambo”. Com direção de Anamaria Fernandes e Heleno Carneiro, a montagem aborda a questão de gênero de maneira sutil, lúdica e poética. De forma fluída, o espetáculo traz a construção de identidades em constante movimento. A apresentação será ao ar livre no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em frente ao Teatro Francisco Nunes, no Centro, dentro da programação do Terça da Dança, com entrada gratuita, no dia 12 de agosto, terça-feira, às 19h. Em seguida, o projeto segue para outras quatro regionais de Belo Horizonte: Venda Nova (14/8), Barreiro (16/8), Leste (16/8) e Pampulha (17/8). Antes da estreia, no dia 5 de agosto, às 20h, acontece uma roda de conversa online com acesso gratuito pelo YouTube da Cia Ananda, sobre processo de criação e orientações artísticas do espetáculo. “Bambo” é uma criação em dança destinada a todos os públicos. No centro da obra estão os dançarinos Luana Magalhães e Samuel Carvalho, e o músico Karim Angelo.
Junto a eles, uma estrutura cênica que se transforma e que se configura como peça central da composição. A estrutura traz a ideia de impermanência, da fragilidade imposta pelo desequilíbrio e propõe jogos de instabilidade, de alternância de lugares e de construções identitárias que trazem consigo a possibilidade de mover o que havia sido estabelecido. Com ela, Samuel e a Luana se arriscam, se transformam, brincam, e se descobrem aos poucos nessa brincadeira. Nesse jogo, aparecem outras possibilidades de ser, uma luta sutil e contínua para manter o equilíbrio e poder brincar de ser quem querem ser. De acordo com a diretora Anamaria Fernandes, a proposta da montagem foi idealizada a partir do jogo, da brincadeira e da instabilidade, onde cada gesto é uma tentativa de sustentação, cada movimento uma pergunta sobre o que é possível ser. “Bambo fala sobre essa liberdade que é, na verdade, atravessada por múltiplas camadas de contenção. Vivemos numa sociedade que exige pactos e que impõe normas. Essa tensão entre o desejo individual e as normas coletivas cria um campo de negociação constante e nele, a liberdade se torna um território vigiado, delimitado por fronteiras invisíveis. Essa liberdade é bamba, tensa, frágil e muitas vezes clandestina. Dar voz a ela é reconhecer que, mesmo em meio às pressões sociais, ainda temos a capacidade de traçar nossa rota, de redefinir o que é possível. E o acolhimento de nossas escolhas pessoais é um ato profundamente político.
É o que queremos dizer com esse espetáculo, que será apresentado em locais de convivência democrática, onde pessoas de diferentes idades, origens, classes sociais, gêneros e trajetórias de vida se encontram, mesmo que por breves momentos. Espaços onde uma multiplicidade de vozes podem coabitar”, conta a diretora. Heleno Carneiro, explica que esse jogo de estrutura é também o que faz a conexão entre eles. “Por trazer em si a precariedade de um equilíbrio instável e o risco imposto pela própria gravidade, a estrutura sustenta a real possibilidade da queda, assim como na vida de cada pessoa. A criação fala do acolhimento dessas escolhas, da importância desta liberdade, da relevância do suporte mútuo e respeito coletivo na construção identitária embasada no desejo profundo do ser”, analisa o diretor. A estrutura cênica é inspirada na peça “See-Saw” de Simone Forti (artista, dançarina, coreógrafa e escritora pós-moderna americana), que faz parte de uma série de trabalhos, estreados no início da década de 1960. Os projetos foram concebidos a partir da aproximação entre a dança e a escultura, em colaboração com o escultor minimalista norte-americano Robert Morris. A peça foi reconstituída por Forti, em 2009. Nela, observa-se um jogo, uma brincadeira de infância: a gangorra. Sempre apresentada em galerias de arte, a peça teve várias interpretações, guardando seu aspecto experimental, mesclando improvisação e composição.