“Desdobráveis” é um curta-metragem em dança, que celebra as mulheres múltiplas, em todos os seus desdobramentos, tanto os que habitam seu universo particular, quanto os que se ampliam a partir dele. São os diferentes papéis sociais que elas exercem ao longo de uma vida, ou seja, profissional, mãe, filha, esposa, companheira, amiga. Nesses percursos, elas desdobram, ainda, sentimentos como medo, culpa, orgulho, amor, paixão, fé, conforto, desconforto, força, fragilidade, ousadia, alegria, paz e esperança. E, por fim, são atravessadas também por outras mulheres que cruzam seus caminhos e multiplicam suas potências.
Entre todos esses desdobramentos, de papeis, sentimentos e relações, muitas vezes, perdidas entre responsabilidades concretas, resiste, em cada uma, a mesma mulher: a desejante, repleta de sonhos, inspirações e aspirações, que vão muito além de todo o roteiro social e cultural imposto. Como o diálogo entre essas muitas mulheres, de dentro e fora, nem sempre é contínuo, as bailarinas se movimentam em gestos de expansão, recolhimento, ruptura e reconexão.
O nome “Desdobráveis” nasceu dos últimos versos do poema “Com licença poética”, de Adélia Prado, que afirma: “Mulher é desdobrável. Eu sou”. A poesia da escritora mineira foi um dos elementos usados para inspirar o processo de criação dos movimentos das bailarinas, também orientadas por outros estímulos artísticos e, sobretudo, pela partilha de movimentos entre elas, que resultou em novas partituras dançantes, num trabalho autoral coletivo, desdobrado, principalmente, a partir da conexão. Esse percurso é costurado ainda por trechos de narrativas e reflexões de cada personagem, numa visão final dessa multiplicidade, conferida pelo olhar da edição e da direção.
As doze bailarinas são mulheres que fazem parte da Kinesis, o único espaço totalmente dedicado à improvisação em dança de Belo Horizonte. A base do trabalho é o método desenvolvido pela diretora do espaço e da companhia de mesmo nome, Renatha Maia, sistematizado em sua dissertação de mestrado em Pedagogia, defendida na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O Método Kinesis de dança parte do princípio de que todas podem dançar e, por isso, um de seus pilares é o acolhimento às singularidades de cada bailarina, porque acredita no potencial criativo singular e subjetivo de cada mulher, e convoca as bailarinas no lugar de intérpretes-criadoras.