A exposição traz 25 obras, incluindo instalações, esculturas e pinturas, em três conjuntos de trabalhos que exploram relações exploratórias e de adversidade entre homens e animais. A série In vitro, desenvolvida pelo artista desde 2017, é constituída com esculturas de ratos em cerâmica de alta temperatura, nas quais as deformidades dos animais convidam à reflexão sobre os limites da ciência. O segundo conjunto de obras apresenta materiais diretamente ligados ao ambiente urbano, como o cimento, ferrugem, piche, canteiros e vergalhões, que evidenciam a aspereza da vida de aves e mamíferos na cidade. Intitulado Bestiário Antropomórfico, o terceiro ambiente é composto por um painel de 30 esculturas de cerâmica, representando animais antropomorfizados, que remetem às coleções de registros de cientistas realizadas em expedições pelo Brasil.
"Com a mostra, proponho a experiência de desvelar ao público, de forma poética, nosso papel como coautores de alguns tipos de relações interespécies que precisam ser repensadas. Lançando mão, assim, de uma das ferramentas mais importantes que usamos diariamente para questionar a objetificação de indivíduos da nossa própria espécie: a arte", reflete o artista Iago Gouvêa.
O título da exposição “Mais outro que qualquer outro” é uma das formas como o filósofo francês franco-magrebino Jacques Derrida (1930-2004) refere-se aos animais não humanos em seu livro “O animal que logo sou”. O pensador trata-os assim, não como expressão de sua opinião pessoal, mas como forma de retratar um pensamento que é comum a nós, animais humanos. "Tendemos a perceber, criar e categorizar infinitas diferenças e semelhanças entre os sujeitos de nossa espécie. Usamos essas definições para estabelecer quem somos, o que nos é próprio, em comparação a outros indivíduos", reflete o artista.
No texto crítico da exposição, o jornalista Pablo Pires relata que "a curiosidade e inquietude de Iago Gouvêa são perceptíveis ao explorar um campo controverso e apresentar soluções formais inusitadas, o que lhe confere uma singularidade na produção contemporânea". E pontua que "embora as obras de Iago tragam abordagens distintas sobre a animalidade, a problematização da exploração de animais pelo homem percorre todos os seus trabalhos", completa.