Exposição: A Água é a mãe da Terra

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EXPOSIÇÃO A ÁGUA É MÃE DA TERRA

Abertura 01.09.2023 de 19h às 22h

Visitação até 02.09 a 08.10.2023

Terça a Sexta de 11h às 16h

Sábado de 09h às 17h

No começo era tudo água. Essa exposição apresenta as obras de Dalzira Xakriabá (a mãe), Nei Leite Xakriabá (o filho) e Ivanir Xakriabá (a nora), mestres na arte da cerâmica na aldeia Dazwkru Apkrêwakdú (Aldeia Barreiro Preto), e de Isabel Cavalcante Bezerra, Sikwatkadi Xakriabá e Simnãitedi Xakriabá, mestras na arte do toá da aldeia Caatinguinha em MG. Muitas culturas falam sobre uma época em que a superfície do mundo era toda água, e que do balanço delas foi surgindo tudo que tem por aqui.

Todas as espécies sabem bem como é esse início, assim como nós mães, enquanto gestamos uma criança esperamos o momento em que uma bolsa de água se romperá e desse lago mítico nascerá um novo ser e com ele um novo mundo. Se toda vez que alguém nasce, um novo mundo nasce, talvez possamos dizer mesmo que o mundo nasce da água.

Para o povo Xakriabá, a água junto com a lua criam formas de entendermos quem somos, onde estamos e como podemos nos relacionar com o mundo. Para a família Xakriabá aqui presente, a coleta do barro, que de agora em diante será chamado de ze, depende desse fluxo entre as águas e a lua.

A coleta de ze deve respeitar o ciclo das águas, para promover a qualidade da cerâmica, bem como a manutenção das fontes de coleta. Se você tira o ze na lua errada, vai dar tudo errado. Os não-indígenas sabem bem disso, pois se relacionam com a natureza de uma maneira errada. Sua sociedade se importa com a necessidade imediata e com o lucro a curto prazo e, por esse mesmo motivo, já conseguiram aquecer em quase 2 graus a temperatura do planeta Terra.

A família Xakriabá também sabe bem disso, não muito distante no tempo viveram nessa relação com os colonizadores uma sequência de violências que acabaram por atacar o povo, as terras, os bichos e as águas do mundo xakriabá e afastá-los do Rio São Francisco. A exposição aqui presente é a manifestação de mundos Xakriabá, que mesmo sofrendo ainda hoje as violências impostas por uma estrutura político-social racista e predatória, vem nos mostrar uma outra ciência, um outro conhecimento sobre o que é viver nesse mundo.

A família Xakriabá aqui presente trabalha o ze em suas representações figurativo-formais que, ao mesmo tempo que contam histórias, nos ensinam sobre a vida e sobre o que é verdadeiramente viver em comunidade. Nei Leite Xakriabá pesquisa junto à sua família a cerâmica tradicional Xakriabá. Através da noção/ação de retomada, ele propõe uma maior circulação das peças de cerâmica dentro do território Xakriabá, ao mesmo tempo em que propõe a mostra dessas peças fora da dazwkru para que todo o mundo conheça a arte e o pensamento de seu povo.

Ele nos conta que, ao longo do tempo, algumas peças foram deixadas de uso, como vasilhas e xícaras, mas que através de sua pesquisa percebeu uma peça que sempre resistiu: a moringa. No extremo norte de Minas, as moringas são essenciais para armazenar água e ao mesmo tempo preservar seu frescor. A partir dessa constatação, Nei começou a se dedicar ao fazer das moringas.

Hoje junto das mestras Dalzira, sua mãe e Ivanir, sua esposa, trabalham não só na criação dessas peças, como na educação indígena, um compromisso que extrapola o próprio fazer e se firma no crescimento coletivo. Nas paredes da galeria, podemos encontrar traços das grandes mestras da pintura Xakriabá que dominam a arte da utilização do toá, uma espécie de pedra solúvel em água utilizada para pinturas de paredes e de cerâmicas.

Em sua utilização tradicional, a tinta do toá é aplicada sobre paredes erguidas sobre uma estrutura de pau a pique e rebocada com uma camada de tabatinga, barro fino e claro que dá a base para suas pinturas.

Essas pinturas são feitas nas casas todo ano após o período de chuvas, pois nessa época a chuva acaba lavando as paredes das casas e levando essa camada protetora da parede junto com os desenhos de plantas, bichos e grafismos. Sendo assim, todo ano as mulheres se encontram para coletar o toá, rebocar e pintar novamente as casas.

Aqui, a rica produção da família Xakriabá, enredada por narrativas míticas, nos dizem sobre os processos de transformação e metamorfose. São histórias do rio onde nasce a lama, o ze, a cerâmica (que é bicho e gente), de onde nasce a moringa que guarda a água do rio, como numa dança da terra que come ao mesmo tempo em que faz nascer.

Como na história de Iaiá que precisou virar onça para dar de comer aos seus, a família Xakriabá sai da aldeia e vem até o Museu de Artes e Ofícios para mostrar seus trabalhos e cultura e buscar visibilidade que, para os povos indígenas, também é uma ferramenta de luta pela vida e resistência.

Por fim deixamos aqui nosso gesto de carinho, admiração e respeito por todas as matriarcas e mestras Xakriabá, em especial por D. Lurdes, mestra e inspiradora de muitas das ações e realizações com o ze entre os Xakriabá, e que nos deixou prematuramente em junho deste ano.

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