O Centro Cultural UFMG disponibiliza nesta sexta-feira, dia 19 de novembro de 2021, a sexta edição do projeto Diálogos: Artista e Curador(a), que contempla o pintor Celso Renato, em virtude de seu centenário.
exposição virtual tem a curadoria da artista e professora Claudia Renault e de sua assistente Bruna Mibielli. As coisas sem importância são bens de poesia – por Claudia Renault Para comemorar os 100 anos de Celso Renato (1919 - 1992), nada melhor que uma exposição individual desse grande artista que é considerado um dos mais singulares em diálogo com a tradição construtivista mineira.
três fases do seu trabalho, procuro enfatizar um caminho no qual fica evidente que na arte as coisas não acontecem por acaso.
primeiros desenhos já deixam entrever a sua liberdade de criação, de quem sempre viveu em um ambiente de arte e poesia. Esses grafismos revelam o desejo de registrar algo premente que já não pode esperar. Daí para a pintura foi um pulo. Celso aparece nos anos 60, no cenário das artes de Belo Horizonte, já como um homem maduro, com uma pintura expressionista, de traços fortes e largos.
A ideia é de um sujeito à procura de si, da sua alma, na maneira mais íntima de se expressar. É nesse momento que as coisas do mundo começam a conversar com ele. Celso parece escutar o silêncio de outros materiais que não a tela. Nessa hora, ele revela a sacralidade das coisas mais rudes.
É com um gesto mínimo, certeiro, de quem lança uma seta, que Celso Renato inicia suas intervenções nas madeiras – restos de materiais da construção civil. Uma vez que o material utilizado já carrega em si texturas, falhas, pregos, Celso inclui esses elementos e cria uma relação muito especial entre sua proposta geométrica e a organicidade do suporte.
É nesses tapumes que o artista enfatiza as formas e revela a sacralidade e a verdadeira alma das coisas. Nessa hora, lembro-me de Manoel de Barros ao dizer que “as coisas sem importância são bens de poesia”.
Renato me ensinou isso antes de Manoel. Ele retira do refugo a madeira e trava com ela um diálogo. Nesse diálogo amoroso com a matéria, dá vida ao que já estava perdido. É com as suas interferências sobre a madeira que Celso marca presença nas artes plásticas do Brasil e do mundo.
Estabelece uma conversa com deuses e ancestrais. Formas e cores puras que nos remetem a rituais, conversas veladas com povos que fazem arte como verdade, como religião, como necessidade do registro da existência. É dessa maneira que esse “artista dos artistas” marca a sua passagem pela terra, sem pressa, sem alarde.
obra solitária de Celso Renato de Lima é um exemplo de infinitude, de secretos e estranhos caminhos abertos apenas a seus apelos mais íntimos.