Coluninha Literária
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COLUNINHA LITERÁRIA - CRIANÇAS E POLÍTICA - 4ª EDIÇÃO

COLUNINHA LITERÁRIA - CRIANÇAS E POLÍTICA  - 4ª EDIÇÃO


APRESENTAÇÃO 


Na quarta edição da Coluninha literária, selecionamos o tema “crianças e política”. Apesar de algumas pessoas poderem considerar o tema delicado ou polêmico, sabemos que o componente político é uma das características inerentes a qualquer texto literário. Nesse ponto, tanto a literatura adulta, quanto aquela escrita para crianças, carregam certa visão de mundo e apresentam conflitos e suas soluções com base nessa visão.

Mas para além da política como um pano de fundo sobre o qual se organiza a história, não é incomum que autoras e autores que escrevem para crianças optem por colocar a questão política como elemento central da narrativa, mostrando aos pequenos leitores como nossa sociedade funciona (ou poderia funcionar), como grupos podem reivindicar direitos, definir deveres e organizar suas hierarquias.

A literatura brasileira para crianças possui diversos autores que se sagraram criando textos que exploram os modos e as contradições da política. Seus leitores são convidados a refletir e desenvolver senso crítico, além de um olhar mais humano e plural para a sociedade. Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Joel Rufino dos Santos, Júlio Emílio Braz, Madu Costa são alguns exemplos notáveis de escritores cujas obras dialogam com franqueza, delicadeza e apuro estético sobre desigualdades sociais, racismo, luta política e um mundo de outros temas, sempre pertinentes e bastante necessários.

O primeiro livro escolhido para ser resenhado é “Quem manda aqui?”, livro de autoria coletiva (André Rodrigues, Larissa Ribeiro, Paula Desgualdo e Pedro Markun), ilustrações belíssimas e simples, e que traz versos discutindo modos como se estabelecem figuras de autoridade e de governo. A segunda obra é “Minhocas comem amendoins”, da autora francesa Élisa Géhin. Utilizando o nonsense tanto no texto quanto nas ilustrações, a autora conta uma deliciosa história de uma revolta de minhocas contra os gatos que estão no topo da cadeia alimentar.

Por fim, rendemos justa homenagem à Ruth Rocha, uma das mais importantes autoras nacionais, que sempre se ocupou de discussões políticas em seus livros. Livros como “O reizinho mandão”, “Marcelo marmelo martelo”, “Procurando firme”, “Romeu e Julieta” além de povoarem o imaginário das crianças, nos ajudam a questionar a autoridade de reis e governantes, os interesses dos mais ricos e poderosos, ao mesmo tempo em que nos incentivam a ter coragem para defender valores éticos, de justiça e igualdade.

Todos os livros indicados nesta edição, estão disponíveis para empréstimo na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte - BPIJ-BH.


Rodrigo Teixeira
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte


 


RESENHA: QUEM MANDA AQUI? UM LIVRO SOBRE POLÍTICA PARA CRIANÇAS


“Quem manda aqui? Um livro sobre política para crianças”, de André Rodrigues, Larissa Ribeiro, Paula Desgualdo, Pedro Markun, publicado pela Cia das Letrinhas, é um livro que assume o desafio de falar sobre um tema bastante complexo e desafiador há muito entendido como voltado apenas para o universo adulto. 
Destinada ao público infantil, a narrativa oportuniza mostrar às crianças valores essenciais à boa convivência. A escrita do livro é feita por autores, escritores e também ilustradores. 
Nos contos de fadas ou na vida real, o universo das crianças é repleto de personagens que tomam decisões. Reis, rainhas, prefeitos, pais, professores, policiais. Afinal o que faz de um rei um rei? Quem dá ao outro o poder de decidir e por quê? Questionamentos que são colocados neste livro. 
O objetivo é dar recursos para os pequenos refletirem sobre formas de controle e poder e de pensar a política como forma de construir um mundo mais feliz e mais justo. Quem disse que o reino é reino, quem decidiu quem é a rainha ou o rei, quais eram os critérios para mandar em todos e fazer com que todos digam sim? O livro é uma amostra de que é preciso ouvir diferentes vozes, elemento fundamental para a execução de qualquer política.


Silvio Reis
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte


 


RESENHA: MINHOCAS COMEM AMENDOINS


       O livro “Minhocas comem amendoins”, de Élisa Géhin, publicado pela Pequena Zahar, traz uma narrativa que faz dos alimentos, necessários a todo ser vivo, insumos essenciais. Ao mesmo tempo, representa uma das cadeias alimentares, quando um ser vivo alimenta-se de algum alimento ou de outro ser vivo e, posteriormente, servirá de alimento para um ser mais forte do que ele. Assim acontece também nas classes sociais. Os componentes das camadas inferiores são fundamentais para que as camadas que se põem acima na pirâmide social não só se destaquem por terem melhores condições, mas também são primordiais para a manutenção de suas posições sociais e privilégios.
           O amendoim pode ser entendido, dentre muitas possibilidades, como o conhecimento e os desejos de evolução de um grupo social; as minhocas rastejantes, que serão engolidas por um outro grupo social mais forte que alça vôos sobre elas: os passarinhos. Entretanto, existe um grupo ainda mais voraz e dominante que por sua vez vai abocanhar os passarinhos que já haviam engolido as minhocas, no caso, os gatos. Configura-se o domínio dos grupos sociais mais bastardos, detentores dos poderes político e econômico, sobre os grupos que apenas servem para legitimar os poderes desses grupos dominadores.
           Mas como a vida e a história são dinâmicas, insatisfações sempre ocorrem, principalmente por parte daqueles constantemente explorados. As minhocas se rebelam, comem os passarinhos, comem os gatos e atacam-se num descontrole geral. É como quando as instituições perdem o controle da sociedade, ocasionando um caos social, que só vai se extinguir quando as instituições retomarem as rédeas e colocarem uma certa ordem e algumas regras.
           No entanto, o que se verá é que a aparente retomada da normalidade, quando gatos vomitam minhocas, que vomitam passarinhos, que vomitam gatos, não significará igualdade e muito menos satisfação social. Uma vez que os detentores dos poderes econômico e político, por consequência de decisão, sempre deixam para a maioria dependente e desprovida desses poderes, o resto, ou o nada, como quando os gatos e os passarinhos passam a comer amendoins, sobrando apenas pedrinhas para as minhocas.


Wander Ferreira
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte


 

 


PERFIL LITERÁRIO: RUTH ROCHA


São raros os escritores que conseguem elevar suas criações ao status de clássicos. Poucos têm o talento de produzir uma série de obras, cada uma com sua própria singularidade e relevância. Nesse aspecto, Ruth Rocha se destaca, pois é uma personalidade  única, capaz de representar os mais variados temas de forma fácil e excepcional.
Ruth Rocha, nascida em 2 de março de 1931, na cidade de São Paulo, é uma escritora icônica no cenário literário brasileiro. Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, sua jornada intelectual e criativa é marcada por uma profunda dedicação à literatura infantil e juvenil.
Seu impacto no mundo da literatura infantil começou em 1976, com a publicação de seu primeiro livro, "Palavras, muitas palavras". Ruth Rocha se destacou ao lado de outros renomados autores como Pedro Bandeira e Ana Maria Machado, contribuindo significativamente para a transformação do cenário da literatura destinada aos jovens leitores no Brasil.
Ao longo de sua carreira, Ruth Rocha produziu mais de 200 títulos, encantando não só as crianças, mas também inspirando reflexões e debates entre os adultos. Traduzida para mais de 25 idiomas, suas histórias atravessam fronteiras culturais, alcançando um público global.
Além de sua produção literária, a escritora é conhecida por abordar questões políticas de forma clara e acessível para jovens e crianças. Suas obras, como "Dois idiotas sentados cada qual no seu barril" e "O rei que não sabia de nada", exemplificam isso. Além disso, ela demonstra um forte compromisso com os direitos humanos, especialmente os das crianças. Em colaboração com Otávio Roth, ela adaptou a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” para uma versão acessível às crianças, lançada na sede da ONU em Nova York, em 1988.
Sua contribuição para a literatura brasileira foi reconhecida pela Academia Paulista de Letras, onde ocupou a cadeira nº 38, e pelo governo brasileiro, que a condecorou, em 1998, com a Comenda da Ordem do Ministério da Cultura.
Ruth Rocha é mais do que uma escritora de livros infantis; ela é uma voz atemporal que ecoa através de suas histórias, educando, inspirando e promovendo a literatura para todas as pessoas de todas as idades. Várias de suas obras estão disponíveis para empréstimo na BPIJ-BH.


Guilherme Soares
Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte