Refletindo sobre seu percurso como artista em início de carreira, Elena apresenta em ‘Fragmentos Velados: encontros com o gótico’ os princípios de seus encontros com as técnicas, as temáticas e o momento em que passa a se reconhecer como artista, o instante em que encontra aquilo que seu gesto e sua alma desejam expressar. É no gótico, em especial em suas manifestações brasileiras, que ela identifica sua fonte de pesquisa e inspiração.
Embora tenha origem marcada pelo eurocentrismo, o gótico se revelou, ao longo do tempo, como uma tendência que transcende seus primórdios, encontrando espaço em diferentes contextos, inclusive no Brasil. Elena compreende essa vertente como potência criativa múltipla e instigante, fonte de uma imaginação fantástica e sombria que explora os medos e ansiedades da humanidade, por vezes extrapolando os limites da consciência. Ele articula narrativas transgressoras, ultrarromânticas e não civilizadas, em afronta aos modelos clássicos e ao racionalismo.
A artista encontra principalmente na gravura e na monotipia seus meios de expressão. Essas técnicas, pelo potencial expressivo, abrem caminhos para conexões visuais e conceituais com a estética gótica. A gravura dialoga com as histórias que a inspiram, seja nos contrastes, nas incisões ou no uso de ácidos contra a matriz, evocando uma violência simbólica que abre feridas para revelar a imagem. Já a monotipia se destaca por criar atmosferas de suspense e incerteza, reforçando tensões emocionais das narrativas. Seu processo instável conversa com a presença do desconhecido e do estranho.
A exposição é, portanto, um convite para que o espectador se deixe envolver pelo imaginário inquietante do gótico brasileiro, onde o medo, o sublime e o grotesco se entrelaçam, e a sombra emerge como elemento essencial da construção poética.