Bloco Trovão De Minas 2015
Bloco Trovão De Minas (2015) / Foto: Samuel Mendes / Acervo Belotur

BH, o melhor Carnaval de rua do Brasil, entre o samba, a memória e o que vem por aí

Belo Horizonte sempre gostou de fazer tudo do seu jeito, até Carnaval. A primeira folia daqui aconteceu quando a cidade nem existia oficialmente. Janeiro de 1897: um monte de operário, poeira para todo lado, uma capital em construção… e, no meio disso tudo, alguém teve a ideia de brincar. Carros, carroças, enfeites improvisados, confete, serpentina e uma procissão alegre que saiu da Praça da Liberdade até a Afonso Pena. Não era planejado, não tinha organização alguma, mas tinha vontade e, às vezes, é isso que basta para começar uma tradição.

Desfile Corso (década 1920)
Acervo: APCBH

A partir daí, a história vai ganhando camadas. Uma banda aqui, um corso ali, matinês em clubes, blocos caricatos aparecendo nos anos 40, as primeiras escolas de samba nos anos 50. BH ainda era uma cidade tímida, mas seu Carnaval nunca foi.

O Leão da Lagoinha e aquela ousadia tão nossa

Bloco Leão da Lagoinha (1973)
Foto: Acervo Belotur

O famoso Leão da Lagoinha, fundado em 1947, é provavelmente o bloco que mais parece com BH: espontâneo, divertido, meio atrevido, mas sempre com a alma leve. No Carnaval de 1948, um grupo de garotos resolveu sair vestido de mulher. As irmãs ajudaram, passaram maquiagem, ajeitaram roupas, e quando eles se viram prontos, acharam que estavam tão bem que talvez até recebessem cantada. A bateria do Leão tocando ao fundo, eles na rua e pronto: dessas brincadeiras nascem tradições que ninguém mais tira do imaginário da cidade.

BH nunca gostou de fazer Carnaval para assistir. BH gosta é de participar.

Banda Mole (década 1980)
Acervo APCBH

Quando a cidade decidiu voltar pra rua

Lá na frente, nos anos 2000, parecia que o Carnaval estava meio apagado. Os clubes já não tinham o mesmo brilho, os desfiles oficiais tinham encolhido. E então, discretamente, em 2009, começaram a pipocar blocos de rua outra vez. Pequenos, tímidos, quase artesanais. E, de repente, de mansinho, como todo bom mineiro, já tinham ocupado as ruas com muita cor, amor, glitter e batuque: em 2015, BH explodiu. Gente por toda parte, mais de 200 blocos, centro, bairro, praça, avenida. Não teve volta. A cidade redescobriu um Carnaval que sempre foi seu, só estava esperando para acordar.

Bloco Baianas Ozadas (2015)
Foto: Samuel Mendes / Acervo Belotur

Hoje, esse Carnaval movimenta turismo, economia, cria laços, cria memória, cria histórias que cada um leva consigo. E em 2024, o samba, esse fio que costura tudo, virou Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. Justíssimo.

Dia Nacional do Samba: BH sempre dançou antes da data existir

O 2 de dezembro chega e BH sorri diferente. A cidade tem uma relação muito íntima com o samba. Ele está nas escolas antigas, nos terreiros, nas quadras, nos botequins, nas rodas que começam pequenas e terminam do tamanho da rua. Está nos ensaios afro, nos blocos que misturam tambor com poesia. Está nos bairros, na orla da Pampulha, nas ladeiras que ecoam repiques em janeiro.

Celebrar o samba é celebrar BH. É celebrar a gente.

2026: o melhor Carnaval de rua do Brasil abre alas, de novo e do seu jeito

E agora a cidade esquenta os tamborins para 2026. De 31 de janeiro a 22 de fevereiro, BH vira outra coisa: mais colorida, mais animada, mais viva. O Kandandu abre a festa, as escolas voltam com força, os blocos caricatos seguem firmes e os blocos de rua se espalham como a gente gosta, pelas regiões inteiras, sem distinção.

Kandandu Bandarerê (2018)
Foto Julia Lanari / Acervo Belotur

Não é exagero dizer que BH vive, hoje, o melhor Carnaval de rua do Brasil. Não porque é o maior (nem é sobre isso), mas porque é democrático, criativo, diverso, livre. Porque tem a cara da cidade. Porque nasceu da rua e voltou pra rua. Porque pertence a quem participa.

E talvez seja por isso que, quando chega fevereiro, BH tem essa sensação de reencontro: como se a cidade descobrisse, mais uma vez, quem ela é.

E quem ela é, está te chamando.

Te encontro no melhor Carnaval de rua do Brasil. Te encontro em BH.🎉

 

Bloco Quando Come Se Lambuza (2023)
Foto: Leo Lara / Acervo Belotur