O artista e designer gráfico Filipe Lampejo constrói uma trajetória que transita entre linguagens — design, teatro, pintura e escrita — e se ancora na ideia de que o processo é o próprio lugar da arte. Formado em Comunicação Social e técnico em Design Gráfico pelo SENAI, iniciou sua carreira produzindo artes gráficas para o Galpão Cine Horto, centro cultural do Grupo Galpão, onde teve o primeiro contato com o fazer teatral. “Trabalhar em um espaço teatral transformou meu modo de pensar a criação.
Estar ao lado de artistas de teatro dentro de uma sala de ensaio em estado de experimentação me ensinou a ser poroso, aberto para muitas linguagens. Essa experiência me formou mais do que qualquer técnica.” A partir dessa convivência, o design deixou de ser ferramenta de comunicação e passou a integrar o próprio processo criativo. Em vez de traduzir o resultado de um espetáculo, ele começou a participar da sua construção. “Nos ensaios, meu trabalho era visto como uma contribuição artística, horizontal e transversal”, conta. “O design estava ali para atravessar o processo, não para ilustrá-lo.” Essa visão moldou o que viria a ser o Estúdio Lampejo, criado ao lado de João Emediato, onde o design passou a ser entendido como linguagem autônoma, sensível e provocadora. “Nos interessava pensar o design como algo que pudesse gerar ruído, e não só resolver problemas.
Às vezes, era mais sobre abrir perguntas do que respostas.” Foi dessa abordagem experimental que nasceram projetos premiados, como as identidades visuais criadas para o Grupo Galpão, reconhecidas com ouro no Brasil Design Award e mais inúmeros outros prêmios, como a indicação ao Grammy Latino em 2013. Durante a pandemia, Filipe encontrou na pintura um novo campo de investigação. A primeira experiência, feita de modo intuitivo, coincidiu com o uso de cogumelos psicoativos. “A primeira vez que pintei, estava sob efeito de cogumelo. Foi decorrência do isolamento e do desejo de buscar outras formas de expressão”, lembra. A pintura se tornou uma extensão natural do seu pensamento visual, uma prática que envolve tempo, observação e presença. “A aquarela me deu algo que eu chamo de atenção microscópica — uma escuta absoluta da imagem.” Esse processo resultou nas aquarelas que integram "A eterna novidade do mundo", sua primeira exposição individual, em cartaz no Estúdio Pessoas Físicas, em Belo Horizonte, entre 8 de novembro e 13 de dezembro.
O conjunto de obras dialoga diretamente com o livro "Aquele que brota" (Editora Chão da Feira), lançado simultaneamente, em que o artista reúne textos, desenhos e fotografias criados entre 2020 e 2025. “As duas obras nascem do mesmo gesto. São tentativas de olhar para o invisível e dar corpo ao que se move entre matéria e imaginação”, explica. Hoje, Filipe divide o tempo entre o trabalho autoral e a coordenação do Estúdio Pessoas Físicas, criado com Vinícius de Souza. O espaço funciona como ateliê, galeria e sala de ensaio, reunindo artistas e pesquisadores em torno de práticas colaborativas. “Mais do que um espaço de trabalho, o estúdio é um campo de convivência e de experimentação”, afirma. “A arte acontece ali, no meio do caminho, entre uma conversa, uma imagem e uma ideia.”