Edição Especial - Arena da Cultura: espaço aberto para criação e formação
Apresentação
Arena da Cultura - Uma Escola Livre e Pública de Artes e Cultura
A Escola Livre de Artes Arena da Cultura (ELA-Arena) foi criada em 2014 para consolidar o Projeto Arena da Cultura, que desde 1998 desenvolve a política pública de Formação Artística e Cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC) e Secretaria Municipal de Cultura (SMC) de Belo Horizonte. São mais de 24 anos desta política premiada internacionalmente, com o Prêmio CGLU - Cidade do México - Cultura 21. A política de formação artístico-cultural da ELA-Arena tem base conceitual e metodológica construída continuamente com a participação docente e discente, sendo estruturada na perspectiva da garantia dos direitos culturais, a partir das seguintes diretrizes: Democratização do acesso à arte e à cultura; Descentralização das atividades e dos processos; Diversidade de públicos e saberes; Participação social.
A ELA-Arena conta atualmente com os Projetos Arena da Cultura e Integrarte, desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e que realiza formação em arte e cultura para agentes públicos da Educação. Anualmente são atendidas mais de 2000 pessoas, em 24 Unidades Culturais da Prefeitura de Belo Horizonte, nas nove regionais da cidade. Todas as ações desenvolvidas buscam referência no Plano Político Artístico-Pedagógico (PPAP) da Escola, bem como suas dez áreas artísticas e culturais: Artes Visuais; Audiovisual; Bastidores das Artes; Circo; Dança; Design Popular; Gestão e Produção Cultural; Música; Patrimônio Cultural e Teatro. Dentre tantas realizações, a ELA-Arena desenvolve anualmente a Mostra Arena, além de ações de protagonismo estudantil como o “Sarau Vagabundo de Todo Mundo” e o “Reflete Arena”.
A BELA - Biblioteca da Escola Livre de Artes
A política de incentivo à leitura e formação literária desenvolvida no âmbito da Gerência de Bibliotecas e Promoção da Leitura e da Escrita (GBPLE), vinculada à Diretoria de Promoção dos Direitos Culturais (DPDC) é referência para o município e para as bibliotecas públicas sob a guarda da FMC, que em sua maioria integram os centros culturais e já fazem parte do cotidiano de alunos e alunas da ELA-Arena que frequentam essas unidades.
Ao unir a demanda da cidade com a política consolidada pela FMC na área de literatura e a doação do acervo de Marcos Vogel, a partir do segundo semestre de 2017, retomou-se a articulação para efetivação da biblioteca da ELA-Arena. A ampliação orçamentária em 2018 possibilitou a aquisição de um amplo acervo bibliográfico especializado em formação artística e cultural e áreas como artes visuais, cinema, circo, dança, música, história, filosofia, cultura, literatura, culturas populares e cultura da infância. O planejamento de implementação da biblioteca também levou em consideração ampliar o acervo das unidades culturais descentralizadas na perspectiva de oferecer títulos voltados para a formação e que amparem o aprendizado desenvolvido nas oficinas da ELA-Arena que acontecem nos Centros Culturais e Centro de Referência da Cultura Popular Lagoa do Nado (CRCP).
Sendo assim, os títulos da Biblioteca da Escola Livre de Artes Arena da Cultura (BELA) são um acervo formado por obras literárias e de temática artística e cultural, disponibilizados para o público em geral, cidadãos e cidadãs de Belo Horizonte, sendo incluídos(as) estudantes, professores(as) e funcionários(as) da PBH. Em breve a BELA será inaugurada dentro da ELA-Arena, com atendimento aos alunos (as) e público em geral.
Edição Especial:
Na atual edição a Coluna Literária celebra a Biblioteca da ELA-Arena, trazendo resenhas dos livros “Arena da Cultura - Prêmio Internacional CGLU - Cidade do México - Cultura 21” e “A dança: Registros sobre um legado que supera o tempo”, além do perfil literário do artista Marcos Vogel.
Henrique Limadre
Coordenador do Núcleo de Formação e Criação Artística e Cultural
Lídia Mendes
Gerente de Bibliotecas e Promoção da Leitura e da Escrita
Resenha - Arena da Cultura. Uma obra coletiva
“Você é valente, sempre?” — em hora eu perguntei.
O menino estava molhando as mãos na água vermelha,
esteve tempo pensando. Dando fim, sem me encarar, declarou assim: — “Sou diferente de todo o mundo. Meu pai disse que eu careço de ser diferente, muito diferente...” E eu não tinha medo
mais. Eu? O sério pontual é isto, o senhor escute, me escute mais do que eu estou dizendo; e escute desarmado. O sério é isto, da estória toda — por isto foi que a estória eu lhe contei —: eu não
sentia nada. Só uma transformação, pesável. Muita coisa importante falta nome."
(Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, pg. 109)
O Arena da Cultura nasceu do encontro de pessoas que acreditavam na arte como um caminho para mudar a cultura. Assim como Rosa, sabiam "que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando” (Rosa, 2006, pg. 23) e, neste movimento, expressar a sua relação com o mundo tem a força de mudar o próprio mundo, seja o mundo da nossa casa, o mundo do nosso bairro ou o mundo da nossa cidade. Para expressar essa forma de viver e se relacionar com o mundo, a arte é um terreno de infinitas possibilidades. Nesta perspectiva, promover condições que favoreçam a manifestação artística em suas diversas linguagens — e que não fique dúvidas, como um direito consagrado de cada cidadão e cidadã — sempre foi um norte para o Arena da Cultura.
Ao longo desta travessia de mais de duas décadas, iniciada antes mesmo de 1998, milhares de pessoas atravessaram e foram atravessadas pelo Arena, política pública que carrega em seu nome o compromisso da construção coletiva e do diálogo continuado, um espaço aberto para a criação e formação artística, mas também para a troca de ideias, saberes, inquietações, angústias, alegrias e esperanças. Nesta roda viva que orienta o cotidiano da Escola, o ensino e a aprendizagem se entrelaçam e tecem uma linha no qual o território de vida e o território vivido por cada estudante constituem elementos determinantes para o desenvolvimento dos percursos formativos. Ciente que “mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende” (Rosa, 2006, pg. 310), a ELA-Arena escuta e aprende diariamente com cada um de seus alunos e alunas.
A obra editorial que motivou esta edição especial da Coluna Literária teve um processo de elaboração que espelhou boa parte das características que compõem a própria Escola Livre de Artes Arena da Cultura. A estrutura, a edição de textos e imagens, bem como o projeto gráfico e diagramação foram desenvolvidos coletivamente por servidores e servidoras da Fundação Municipal de Cultura. Destoando do convencional, é possível constatar a ausência de um organizador ou organizadora responsável pelo livro. Seus textos foram elaborados de maneira colaborativa, sendo que o conteúdo produzido é o resultado do trabalho de agentes públicos(as) diversos(as) que, ao longo desses 24 anos, contribuíram em distintos momentos para o fortalecimento do Arena. Já em relação às fotografias que enriquecem a publicação não foi diferente, sendo de autoria de vinte colaboradores(as), incluindo colegas da Prefeitura de Belo Horizonte, educadores(as) que ministraram ações formativas e profissionais envolvidos(as) em diferentes montagens e eventos realizados.
Os textos iniciais da obra reúnem olhares institucionais acerca do Arena da Cultura e contextualizam muito bem o livro como fruto de um reconhecimento internacional pela política continuada de descentralização cultural. Na sequência dessa introdução, o primeiro capítulo traz um breve panorama histórico desses mais de vinte anos do Arena, do Programa de Descentralização Cultural à Escola Livre de Artes. O segundo capítulo, por sua vez, aborda questões relacionadas à formação, democratização do acesso e promoção dos direitos culturais, incluindo diretrizes, reflexões sobre a formação no âmbito da cultura e o acesso na prática cotidiana da Escola. Enquanto o terceiro capítulo convida a um mergulho sobre as dez atuais áreas artísticas e culturais, abordando seus antecedentes históricos, conceitos e percursos formativos, o quarto registra desafios e perspectivas para o presente e para o futuro do Arena da Cultura, reconhecendo que os cenários mudam “no devagar depressa dos tempos” (Rosa, 2001, pg. 71) e que é preciso coragem para seguir em movimento e expansão.
Por fim, após a importante inserção das versões resumidas do conteúdo do livro nos idiomas inglês e espanhol, a publicação retrata as mais de vinte unidades culturais que, atualmente, desenvolvem e promovem ações formativas da ELA-Arena, explicitando a diversidade de territórios atendidos e ilustrando o fato da Escola Livre de Artes Arena da Cultura trazer consigo, a cada dia, ideias daqueles e daquelas que a sonharam. Pessoas que, ainda no século passado e nas periferias da cidade, acreditaram na arte como um caminho para mudar a cultura. Provavelmente já sabiam que, para isso, era “preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos” (Rosa, 1997, pg. 139).
Citações dos livros:
João Guimarães Rosa, “Magma”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997
João Guimarães Rosa, “Primeiras Estórias”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001
João Guimarães Rosa, “Grande Sertão Veredas”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006
Frederico Diniz
Gerente da Escola Livre de Artes Arena da Cultura
Resenha - A dança: Registros sobre um legado que supera o tempo
No livro “A dança”, o bailarino, coreógrafo, professor e preparador corporal Klauss Vianna (1928 - 1992) apresenta as suas experiências e as ideias que o destacaram como um mestre cuja atuação colaborou radicalmente para a atualização da dança brasileira. Seus modos de pensarfazer influenciaram profundamente a formação e atuação de muitas/os/es profissionais e permanecem alinhados com o tempo presente, servindo como uma diretriz para a construção cotidiana de uma pedagogia em dança para as diversidades na Escola Livre de Artes Arena da Cultura.
Inquieto e questionador, em “A dança” Klauss Vianna expõe reflexões acerca da elaboração de sua práxis, que abrange as perspectivas artística e didática, e se opõe a ideais estéticos preconceituosos e excludentes que, historicamente, permeiam o campo da Dança. O leitor não encontra a definição de uma metodologia ou técnica, mas sim um material que abarca um relato biográfico de Klauss, sempre em diálogo com a realidade ao seu redor, seu percurso profissional que atravessou décadas e o viés filosófico de seu trabalho. Ao longo das páginas se evidencia seu caráter sensível e observador e sua constante busca por desenvolver uma pesquisa profunda e poética no âmbito das Artes da Cena, vinculando a dança à própria vida.
Deixamos aqui o convite para a leitura de “A dança” que, para muito além de ser um compilado de referências técnicas, afirma a dança como experiência existencial, caminho de autoconhecimento e autocuidado, bem como terreno propício ao exercício da alteridade e da liberdade.
Referência: VIANNA, Klauss. A dança. São Paulo: Summus, 2005. 154 p. ISBN 8532308430.
Márcia Fabiano Neves
Coordenadora de Dança na Escola Livre de Artes Arena da Cultura
Perfil Literário - Marcos Vogel
Nascido no Rio de Janeiro, em 14 de janeiro de 1950, Vogel chegou a Belo Horizonte na década de 1990, mas o mundo era pequeno para seus pensamentos e suas ações. Dramaturgo, diretor, professor, iluminador, ator, agente público, pensador, foi um homem de teatro, das artes. Para Vogel, as palavras eram um universo de criação e encantamento. Ouvi-lo era um exercício de aprendizado. Entusiasta da escrita, em sua passagem pelo Arena da Cultura, deixou um importante legado enquanto coordenou as áreas de Teatro e Circo, contribuindo para a edificação da ELA-Arena e de sua biblioteca, para onde foi doado parte do seu acervo pessoal.
Vogel foi responsável pela formação de uma série de artistas brasileiros, tendo passagem como professor por diversas escolas, desde o ensino universitário até o ensino livre das artes. O artista dedicou-se a estudar profundamente as possibilidades estéticas e éticas do fazer artístico, tendo sido um dos fundadores do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (CDCE), grupo carioca que teve à frente o diretor Aderbal Freire-Filho. Vogel também fundou a Cia. Lúdica dos Atores, quando debruçou-se sobre a obra de William Shakespeare. Em 2010, comandou as atividades especiais do Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua de Belo Horizonte, o FIT-BH.
A Escola Livre de Artes Arena da Cultura tem Marcos Vogel como referência diária. Suas palavras ecoam pelas salas de aula, pelos livros da biblioteca e no imaginário de cidadãos e cidadãs que tiveram a honra de dividir o cotidiano com ele.
Henrique Limadre
Coordenador do Núcleo de Formação e Criação Artística e Cultural
Para visitar as Bibliotecas da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte e pesquisar seu acervo, acesse informações o site: pbh.gov.br/reaberturabibliotecas