O Encontro Brasileiro Internacional de Ciência Cognitiva (EBICC) tem acontecido no Brasil desde 1995, organizado pela Sociedade Brasileira de Ciência Cognitiva (SBCC). A décima terceira edição do Encontro (XIII EBICC) ocorrerá de 14-17 de setembro de 2022, abordando o tema “Criatividade e Inovação Responsável”, na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) - Escola de Design. A programação do evento contará com importantes pesquisadores na área, vindos de diversos países e variados estados brasileiros, e incluirá conferências, mesas redondas, comunicações, sessão de pôsteres e premiação dos melhores trabalhos.

A criatividade é um campo amplo e interdisciplinar que já recebeu diversas tentativas de definição e teorização. No campo da cognição, uma definição bastante popular oferecida pela filósofa Margareth Boden diz que a criatividade, além do fator da novidade, precisa expandir um domínio de desenvolvimento humano como a ciência e as artes. Assim, uma novidade pode ser desinteressante, e ela se torna criativa na medida em que desenvolve possibilidades em algum contexto ou domínio.

Existem variados relatos populares em torno do que consiste a criatividade. Trata-se, no entanto, de um tópico com a fama de um campo desconhecido e talvez impossível de ser estudado com rigor. A criatividade também é comum ser tratada como uma capacidade de indivíduos espetaculares em vez de uma capacidade básica humana. Apesar de certamente ser um campo de difícil compreensão, há como falarmos de uma ciência cognitiva da criatividade que vem se desenvolvendo principalmente desde os anos 1990.

Uma abordagem notável que marcou as tentativas da ciência cognitiva de compreender a criatividade é a Cognição Criativa de Finke, Ward e Smith. Uma das diferenças que essa proposta traz em relação ao campo geral da criatividade é tentar encontrar funções cognitivas básicas que sejam responsáveis pela nossa capacidade de criar, funções gerativas que estariam presentes em indivíduos comuns. Essas funções são descritas em modelos de processamento de informação ou similares e testados a partir de experimentos de laboratório e de campo.

A criatividade dificilmente irá se mostrar como um módulo único do cérebro, pois é esperado que a criatividade surja de outras capacidades mentais como a imaginação, categorização, resolução de problemas, dentre outras. Compreendendo como essa capacidade surge na cognição, poderemos produzir estratégias eficazes de ensino da criatividade, oferecer desenvolvimento de recursos humanos para variados setores de produção, assim como contribuir com o desenvolvimento da produção artística e cultural na sociedade.

Para que esses objetivos sejam alcançados, diversas questões precisam ser discutidos:- 

O que é criatividade?

- Quais funções cognitivas estão envolvidas no processo de criação?

- Quais modelos cognitivos conseguem descrever a criatividade?

- Como podemos utilizar modelos cognitivos da criatividade para a educação?

Compreender a cognição sempre se trata de uma tarefa que leva consigo aspectos éticos. Esse tipo de conhecimento traz possibilidades de garantir a liberdade do ser humano e de expandir nossas perspectivas de como utilizar nossos recursos de formas ecologicamente sustentáveis. Entretanto, qualquer ferramenta que descreve o comportamento humano também pode ser utilizada para o controle autoritário, para um uso inconsequente no mercado e para soluções que visam interesses individuais desconsiderando o bem coletivo.

Assim, precisamos nos questionar sobre como garantir que o conhecimento desenvolvido no atual evento possa contribuir na direção da inovação responsável, prever consequências futuras e planejar caminhos de ação que direcione o desenvolvimento científico para o caminho da ética. Essas propostas devem promover consequências tangíveis que incentivem, por exemplo, o desenvolvimento open source de recursos da comunicação e informação, e outras formas de garantir o acesso e poder público perante o conhecimento. 

Alguns problemas relacionados para serem discutidos nesse âmbito são:

- Quais são as consequências das tecnologias de inovação?

- Como ficaria a responsabilidade moral com máquinas criativas?

- Como podemos direcionar o conhecimento em direção à ética?

- Como podemos oferecer conhecimento e poder ao público em relação aos direcionamentos da ciência?