Uma esquina que começou como uma mercearia e padaria transformou-se em um dos pontos centrais da vida do bairro, com moradores sempre em busca de uma comida caseira para apreciar.
Em uma esquina do Vera Cruz desde 1986, um bar que começou como uma mercearia e padaria transformou-se em um dos pontos centrais da vida no bairro. Fundado por Antônio Moreira da Silva e sua esposa, Leny de Souza, o local reflete a história dos comércios familiares de bairro. O casal vem de uma longa trajetória que incluía a gestão de uma mercearia e uma padaria, nas quais o grande destaque era o cuidado de Antônio pelos produtos que vendia, desde o armazenamento do feijão, manejando para que não desse caruncho, até a qualidade do bacalhau que vendia, refletida hoje no excelente bolinho de bacalhau feito no bar. O local se tornou um ponto de encontro do bairro, inclusive pelo fato de ter o único telefone da região, atraindo clientes para fazer ligações.
O bar manteve suas características ao longo dos anos, principalmente no quesito do atendimento. Por um período, o casal só se encontrava quando cruzava na porta de casa, já que revezava os turnos no bar. Com a entrada da filha do casal, Socorro, e de seu marido, Marcão, o espaço foi ganhando novos ares, sem perder sua essência. Socorro, formada em Relações Públicas, utilizou suas habilidades e a vasta rede de amizades para fortalecer o negócio. Ela trouxe novas receitas, como a famosa dobradinha e a moela, que logo caíram no gosto dos clientes: “eu comecei com a dobradinha, depois fui testando novas receitas, como a moela, até diversificar bastante o cardápio. Era uma forma de trazer novidades para quem já era cliente e atrair pessoas novas para o bar”, conta.
Marcão, que antes trabalhava como vendedor em uma loja de shopping, aceitou o convite de Antônio para se juntar à operação do bar quando o sogro e Leny começaram a desacelerar o ritmo. Juntos, ele e Socorro passaram a gerir o negócio, mantendo a tradição de revezar os horários, como faziam os pais dela. Marcão também trouxe suas próprias contribuições à cozinha, como o seu famoso jiló empanado, que rapidamente virou um dos pratos mais pedidos. “A ideia sempre foi manter o que deu certo, mas também inovar para continuar agradando tanto os clientes antigos quanto os novos”, explica Marcão.
O Bar Antônio e Marcão tornou-se conhecido pelos seus pratos simples, porém de sabor inconfundível. O torresmo crocante, o bolinho de bacalhau, o pastel de carne e queijo, e, claro, o jiló empanado de Marcão são os grandes destaques. A língua e a dobradinha são outros pratos que conquistaram os frequentadores fiéis. O ambiente acolhedor e familiar é um reflexo da própria dedicação da família àquele lugar, e a decoração, com suas cortinas de chita e móveis simples, ajuda a reforçar a atmosfera caseira. Para Socorro, o atendimento caloroso é tão importante quanto a comida servida: “a gente sempre tratou cada freguês como um amigo. Isso faz diferença. O bar é quase uma extensão do quintal das casas aqui do bairro”.
A relação dos clientes com o bar é carregada de afeto e gratidão. Muitos lembram de como, nos tempos da mercearia, Antônio permitia que os moradores levassem alimentos mesmo sem poder pagar na hora, um gesto de solidariedade que marcou a vida de várias famílias do Vera Cruz. “Tinha gente que saía daqui com sacolas de arroz, feijão e carne, e pagava depois. A gente sabia quem estava passando por dificuldades, mas sempre dava um jeito de ajudar”, relembra Socorro. Nos finais de semana e nas noites agitadas do bairro, o lugar se enche de conversas animadas, risadas e reencontros de velhos amigos. Um novato, ao entrar, é logo identificado pelo olhar dos frequentadores mais antigos, mas rapidamente se sente em casa. Ali, todos são bem-vindos.
A pandemia de COVID-19 representou um dos maiores desafios para o bar, mas a família soube superar as dificuldades com a ajuda da comunidade. “Foi um período muito difícil, mas conseguimos manter o bar de pé graças ao apoio dos nossos clientes e amigos, muitos deles policiais, promotores e advogados que frequentam o bar há anos”, diz Socorro. Durante o auge da pandemia, o bar chegou a funcionar de portas fechadas, com os clientes sentados distantes uns dos outros, mas ainda assim presentes.
Apesar de o nome homenagear Antônio e Marcão, o bar poderia muito bem se chamar Leny e Socorro, já que as duas estão sempre à frente da operação. O local segue até hoje firme como um pilar do bairro Vera Cruz. A clientela continua fiel, e o legado de Antônio e Leny está mais vivo do que nunca, perpetuado por Socorro e Marcão. Para quem passa pela esquina do Vera Cruz, o bar é um convite para se sentar, apreciar uma boa comida e fazer parte dessa história que já atravessa décadas.
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