Em meio a uma cidade que se pasteuriza a cada dia por influência dos shopping centers e grandes supermercados, uma mercearia no Santa Cruz resiste, preservando a cultura das pequenas mercearias de bairro. O que começou em 1963 como uma pequena venda com produtos simples, cresceu ao longo dos anos, mantendo o espírito de proximidade com a comunidade local. Hoje, a Mercearia Zé Correia é um ponto de referência para gerações de moradores, que encontram ali produtos de qualidade, como frios, queijos e até peixe fresco, além de notícias quentes e mornas da região alimentadas pelo entra e sai de clientes da vizinhança.

  O fundador, Seu José Correia, trouxe consigo do interior de Minas Gerais o espírito empreendedor. Seu filho, Zezinho, que também ajuda no negócio, conta: “meu pai foi o primeiro a levar cerveja gelada pro interior. Ele comprou uma geladeira a querosene e foi um sucesso. Quando viemos para cá, ele queria dar continuidade ao trabalho, mas de uma forma maior”. O estabelecimento foi crescendo, de uma pequena portinha até o espaço que ocupa hoje, com prateleiras recheadas de produtos que honram qualquer mercearia tradicional do interior.

  O local resiste ao tempo e às mudanças do seu entorno, mesmo com o fechamento da maioria dos mercados na região. A simplicidade é uma marca registrada: desde a placa escrita à mão com os dizeres “Temos Peixe” até o balcão de madeira que serve tanto para atendimento quanto para a troca de histórias com os clientes. “A gente bate um papo, conversa com a pessoa, mostra produto, e às vezes o freguês resolve levar uma coisa que nem ia levar. É esse boca a boca que faz com que o cliente volte feliz”, explica Zezinho.

  O ambiente na mercearia é marcado pela tranquilidade e pela familiaridade. Com poucas mesas e sem música alta, o foco é a convivência. A televisão fica ligada, mas sempre no jogo ou no jornal, sem interferir no bate-papo dos frequentadores. “Tem cliente que vem, bate papo, toma uma cervejinha e às vezes resolve até comprar mais coisas do que tinha planejado. Esse é o charme daqui, é um lugar simples, mas que faz todo mundo se sentir em casa”, conta Décio, outro dos irmãos Correia que ajuda a tocar o negócio.

  A rotina do bar é intensa. Funcionando de segunda a segunda, das 9h às 22h, a mercearia só fecha mais cedo em domingos e feriados. A dedicação da família é total, com os irmãos Zezinho, Décio e Edvar se revezando nas tarefas diárias, além de um sobrinho que começou a ajudar recentemente. Mesmo com a oportunidade de expandir, a família optou por manter o negócio no mesmo formato, sem grandes alterações. “A gente teve a chance de crescer, abrir outra loja, mas preferimos manter as coisas do jeito que estão. Aqui todo mundo se conhece, e é assim que gostamos de trabalhar”, explica Zezinho.

  O que torna a mercearia especial não é apenas a variedade de produtos que oferece, que vai desde Queijo Minas fresquinho até cadeados e brinquedos — é o clima familiar que faz a diferença. Em datas especiais, como o Natal, o local ganha um toque a mais: um Papai Noel na entrada dá as boas-vindas aos clientes, um detalhe que reforça a atmosfera acolhedora. Para muitos, é como voltar no tempo, para uma época em que as relações de confiança com o comerciante local eram mais fortes do que qualquer propaganda.

  A mercearia também é famosa por seus tira-gostos simples e saborosos. Entre as opções mais pedidas estão os queijos com presunto, o salaminho e o frango frito, que virou uma tradição no local. “Se o cliente pedir uma linguiça ou um presunto com queijo, a gente faz na hora, vai lá e frita. Aqui tudo é feito com cuidado e no momento que o cliente quer”, conta Zezinho, com orgulho do atendimento personalizado.

  Além de ser um ponto de encontro diário, a Mercearia e Bar Zé Correia também recebe grupos para confraternizações. É comum ver engenheiros, trabalhadores da construção civil e moradores locais se reunindo ali, fechando até a rua para acomodar mesas. “Tem um cliente que todo mês traz a turma dele para tomar uma cerveja aqui. A gente coloca as mesas na rua, eles ficam batendo papo, e o clima é sempre de amizade”, conta Décio. 

  Ao longo dos anos, a mercearia se consolidou como um refúgio em meio à agitação da vida moderna. Com atendimento próximo e produtos de qualidade, o Zé Correia continua a atrair novos clientes, ao mesmo tempo em que mantém a freguesia fiel que o acompanha há décadas. Quem frequenta o local está vivenciando uma parte da história de um bairro, de uma família e de uma cidade. “Aqui o cliente chega, compra o que precisa, mas também leva uma boa conversa. Esse é o jeito que sempre trabalhamos, e é assim que vamos continuar”, afirma Zezinho, com o sorriso de quem sabe que a tradição está em boas mãos.