Bar do Valle

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Uma coisa gostosa é a pessoa passar aqui e falar: ‘aqui ainda faz aquele pão com carne que eu comia 30 anos atrás? Faz sim!’. O cara vem e vê que tá a mesma coisa, a mesma estufa… Ele diz: ‘eu vinha aqui com o meu pai, que já faleceu, ele adorava aqui’. Aí aparece um neto, que fala que vinha aqui com o avô pra ele tomar a cachacinha dele, que aqui foi o primeiro bar que ele frequentou na vida… então é um bar que tem a história das pessoas.

Rua Grão Mogol, 426 - Carmo, Belo Horizonte - MG

CONTATO
(31) 3223-0937

 

“Uma coisa gostosa é a pessoa passar aqui e falar: ‘aqui ainda faz aquele pão com carne que eu comia 30 anos atrás? Faz sim!’. O cara vem e vê que tá a mesma coisa, a mesma estufa… Ele diz: ‘eu vinha aqui com o meu pai, que já faleceu, ele adorava aqui’. Aí aparece um neto, que fala que vinha aqui com o avô pra ele tomar a cachacinha dele, que aqui foi o primeiro bar que ele frequentou na vida… então é um bar que tem a história das pessoas.”

André Ferreira, neto do Seu Nenem e atual administrador

Na esquina da movimentada rua Grão Mogol com rua Montes Claros, próximo à Av. Nossa Senhora do Carmo, no bairro Sion, Regional Centro-Sul, um imóvel salta aos olhos e nos transporta para a década de 1930, com sua faixada de época. Ali, seu balcão, suas banquetas e suas prateleiras de bebidas que chegam próximas ao teto da loja contam a história de tantos bares que passaram pelo imóvel e ajudaram a construir a história do bairro Sion e de Belo Horizonte. Já na fachada, lê-se o ano de 1931. Não se sabe ao certo, mas sócios e clientes consideram que essa é a data de construção do imóvel ou o ano de início das atividades dos bares, somando 93 anos de contribuições para a vida boêmia da capital dos bares. 

  A história do bar se relaciona com a história da família Ruas. Quem conta é o cliente mais antigo, Seu Lineu Ruas, que frequenta o bar há incríveis 80 anos, já que desde os sete anos passava ali para pegar bala na venda e bar de seu avô, que o comprou do português Seu Azevedo. Seu Lineu passa diariamente pelo bar para tomar suas 20 gotas de café (brincadeira que faz com os atendentes), cortesia da casa.

Enquanto permaneceu com a família Ruas, o bar pertenceu a diversos de seus membros e teve os nomes “Bar e Café Ruas”, “Bar Tupã” e “Imperial”. Depois disso, o bar foi assumido pelo Seu Afonso e era chamado de “Bar Guanhães”. Um de seus funcionários, o Seu Antônio, conhecido como Bigode, tornou-se proprietário após alguma insistência do antigo dono. Assim nasceu o Bar do Valle, cujo nome homenageia o Vale do Jequitinhonha, região natal de Seu Antônio, em Minas Gerais. 

  Inicialmente o bar ocupava apenas a loja de esquina do imóvel, onde ficam o balcão e a estufa. Com os anos, Seu Antônio foi alugando as lojas contíguas, criando um salão onde ficam as mesas e onde hoje é servido o almoço.

  Seu Antônio ficou à frente do bar por cerca de 40 anos, e há cerca de 6 passou por um problema de saúde e vendeu o bar para seu irmão, Adair, que trabalhava por lá há 20 anos, e para Nelson, cunhado de Adair. Ambos também vindos do Vale do Jequitinhonha.

 

Segundo Seu Luiz Antonio Brandão, cliente assíduo e muito envolvido com o bar desde 1995, os novos sócios são muito cuidadosos com a continuidade das características do bar, tendo muito orgulho da sua história. A nova gestão manteve os antigos funcionários, vários com mais de uma década de casa. Mantiveram também a “caderneta” para alguns clientes antigos. Muitos vem até hoje procurando o Bigode, que é muito querido pelos clientes. Até hoje Seu Antônio frequenta o bar para tomar seu cafezinho.

  O diferencial ali, de acordo com o cliente, é que o bar funciona como “bar-escola”. Tanto Seu Antônio como os atuais sócios têm grande cuidado na montagem da equipe e muitas vezes contratam conterrâneos do Vale e até mesmo os trazem de lá. É relativamente comum que os funcionários saiam para abrir seus próprios bares, que são inclusive frequentados pelos sócios, como é o caso do Totó, do Bar do Totó (na Conde de Linhares), e do Claudinho, do Bar do Moita. Já aconteceu também de a experiência com o próprio bar não dar certo e o funcionário voltar a trabalhar no Bar do Valle.

  O bar também é conhecido por realizar eventos culturais. Entre os mais conhecidos está o Esquina da Arte, criado pelo Seu Luiz em 1999 na Savassi e realizado no Bar do Valle entre os anos 2000 e 2023. O projeto trazia artistas para exporem suas pinturas aos sábados no bar e, depois de um tempo, incorporou ações de pintura ao vivo. “Fica um clima gostoso, dá aquela boa lembrança de estar na Afonso Pena, na Feira Hippie. Ficam mesas lá fora, tira-gostinho, quadro pra todo lado, artistas pintando. O pessoal passa de carro, vê os quadros, para e compra os quadros. Eu mesmo já comprei uns 4 quadros para decorar minha casa!”, conta Nelson. Mesmo quando o projeto, por algum motivo, acaba acontecendo em outro lugar, os quadros dos artistas ainda assim ficam expostos no bar durante a semana do evento. Luiz diz que, como produtor, já vendeu muitas obras ali no Bar do Valle. 

Uma das maiores preocupações de Adair e Nelson é manter o ritmo do bar, “que quebra o da cidade”, convidando os clientes e funcionários a desenvolver uma relação mais parecida com a do interior de Minas: ter tempo para conversa, para interação, saber o que o cliente gosta de beber, se gosta de futebol, qual seu time, o que gosta de comer, e sempre que possível servindo até coisas que estão fora do cardápio para melhor atender algum cliente. No salão do bar há um grande quadro, criado por Seu Luiz, com diversas fotos dos clientes, o que cria um ambiente de amizade e carinho. Nelson conta que um dos clientes vem sempre no mesmo dia e horário toda semana, tão cronometrada é a sua chegada que, quando ele aparece na esquina, há tempo suficiente para que chegue e na sua mesa preferida esteja sua cerveja e tira-gosto. Isso é que é privilégio!

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Descritivo
Com impressionantes 93 anos de existência, o bar se destaca pelo cuidado no atendimento ao cliente. Do cafezinho do trabalhador a uma experiência gastronômica transformadora, a visita ao local é uma viagem no tempo. O cardápio é rotativo ao longo da semana, com destaque para a “xuranha”, invenção da casa.