Uma raríssima e autentica mercearia de bairro é o que encontramos aqui, sobre a administração de Seu José Quintino de Souza, ou só Quintino, como é conhecido pelos fregueses e amigos. Ele nasceu praticamente dentro da mercearia da família, a Pérola do Atlântico, localizada na Rua Iara, nº 300, no coração comercial desse antigo bairro de operários.
Seus pais, portugueses da Ilha da Madeira, chegaram ao Brasil com uma boa bagagem de vida em comércio, já que os avós de Quintino foram padeiros. O nome da mercearia, aliás, é uma menção a essa origem, já que Pérola do Atlântico é um apelido da Ilha da Madeira. Os pais se conheceram já em BH, se casaram e depois compraram o terreno onde hoje é a mercearia que ajudou a sustentar os nove filhos do casal. O caçula, Seu Quintino, foi quem herdou a incumbência de tocar o negócio, que nasceu dez anos antes dele.
Hoje encontramos por lá uma clientela cativada em quase sete décadas de disciplina comercial. Seja para beber cerveja ou para comprar frutas e utensílios domésticos, jovens e idosos do bairro passam por ali quase que por hábito. Param, conversam com o dono, perguntam sobre a família — e compram! Não se passam cinco minutos de papo com Quintino sem que alguém entre para comprar algo ou beber uma cerveja com os clientes que sempre estão por lá. Com sua simpatia e irreverência, ele conversa sobre tudo com os passantes, em especial sobre as notícias do bairro: “como está sua mãe? Já saiu do hospital?”, enquanto fuma embaixo da placa de é proibido fumar, perto da porta do bar.
Na estufa encontramos as comidas de boteco que deixaram Seu Quintino famoso: costelinha, chouriço, linguiça, frango frito, bolinho de feijão… E o melhor: é também possível pedir a famosa salada fria, feita na hora pelo próprio dono (um prato muito apreciado pelos frequentadores mais assíduos), que é um junta-junta de alguns artigos da organizada prateleira. Elas, as prateleiras, têm tudo o que se espera de uma vendinha de bairro: produtos de limpeza, utensílios domésticos diversos e até um belo hortifrúti. O dono visivelmente se dedica à árdua tarefa de manter tudo limpo e organizado, como é raro de ver em mercearias que sobreviveram até os dias atuais. As placas de preço escritas à mão atestam ainda mais o cuidado com o ambiente. O barulho das conversas, o som das embalagens sendo abertas e os cumprimentos amistosos acrescentam o ar único que reflete a vida do bairro e encanta qualquer visitante.
Felizmente, a Pérola do Atlântico se mantém firme até hoje, diferente de muitas mercearias de bairro. Ela é um ponto fora da curva, que nos ensina muito sobre a importância de preservar esses centros de cultura alimentar, botequeira e comercial, que tanto fizeram e fazem pela história e identidade das localidades que abraçam e servem.
Se estiver de passagem pela Regional Leste, em especial pelo Pompeia, não deixe de visitar seu Quintino para um bom dedo de prosa nesta verdadeira Pérola de Belo Horizonte.
André, neto do fundador e sucessor direto do seu pai, Luiz Fernando, e do seu tio, João Lúcio, é o atual administrador e garante que cada deta- lhe esteja como esperado para os novos e antiquíssimos frequentadores. Desde a cozinha, sempre movimentada, até o serviço impecável de chope, a dedicação da família é evidente, e é refletida nas paredes do bar, decoradas com prêmios que atestam a qualidade e a relevância do Café Palhares na cena gastronômica da cidade.
Com 86 anos de existência, o Café Palhares continua a ser um refúgio da memória afetiva em pleno Centro da cidade, resgatando uma saudo- dosa sensação mesmo naqueles que não viveram os tempos de sua origem. Hoje, passou por uma ampliação, contando com mesas na calça- da, o que garante maior rotatividade de clientes que podem contar com mais conforto na sua estadia. É um dos raros bares com a honra de ter um ponto de ônibus na porta com seu nome, confirmando a parada obrigatória ali para moradores e turistas.
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