A Cantina do Lucas é símbolo da história de Belo Horizonte. Com mais de seis décadas de vida, o cantinho atravessa gerações e consolida sua importância não só na gastronomia, mas também na cultura.
Avenida Augusto de Lima, 233 - Loja 18 - Ed. Maletta - Centro, Belo Horizonte - MG
CONTATO
(31) 3243-9747
“Meu pai era uma pessoa que brigava muito pela revitalização, ele comprou aqui em 1983 porque ele acreditava no Centro. Tanto que uma coisa que ele sempre falava pra gente é que você conhece a cultura de uma cidade quando você conhece o centro daquele lugar. A cultura do lugar está no centro da cidade.”
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Um prédio comercial e residencial ganhou o coração dos belo-horizontinos há mais de seis décadas: Edifício Arcângelo Maletta, construído no terreno que até 1919 abrigava o Grande Hotel de Belo Horizonte. A construção, que é praticamente uma cidade, possui três blocos com 319 apartamentos, mais de 140 lojas e muita história para contar. O Edifício Maletta não é só o prédio que recebeu a primeira escada rolante da cidade, é um polo gastronômico, turístico, político e de muita resistência.
Fundada em 1962, a Cantina do Lucas nasceu no térreo do edifício, um ano após a inauguração, e logo se tornou um dos mais icônicos pontos de encontro da cidade. Originalmente aberta por um trio de italianos com o nome de Chopplândia, no ano seguinte a cantina foi vendida e passou a se chamar Trattoria di Saatore. Já no ano de 1966, o estabelecimento foi finalmente batizado como Cantina do Lucas, nome que segue firme até os dias de hoje. Tamanho é o valor cultural e histórico da Cantina que, em 1997, ela foi tombada como patrimônio cultural de Belo Horizonte, reconhecendo suas diversas contribuições para a cultura e identidade da cidade.
Passando por muitos proprietários, o nome que mais se destacou foi o de Edmar Roque, que assumiu o local na década de 80. Edmar chegou a Belo Horizonte vindo de Arcos, interior de Minas Gerais, com o sonho de cursar Medicina, mas a cidade tinha outros planos para ele. Após o vestibular frustrado, Edmar decidiu vender cachaças de sua cidade natal para bares da capital, o que o levou a abrir seu próprio estabelecimento próximo ao Mercado Novo. Anos depois, Edmar se tornaria proprietário da Cantina do Lucas, onde permaneceu até seu falecimento em 2017. Hoje, a Cantina é comandada por sua filha, Maria Eleonora, que, com os vários funcionários de décadas, mantém o local vivo e com a mesma essência de sempre.
A cantina sempre apoiou a cultura e foi um ponto de encontro para artistas, escritores, jornalistas e intelectuais. Entre os clientes fiéis, Milton Nascimento e Toninho Horta frequentavam o estabelecimento, ajudando a consolidar seu status como um reduto da boemia e dos artistas da cidade. Durante a ditadura militar, não foi diferente: a Cantina do Lucas era um dos poucos locais onde se podia discutir política e cultura livremente. Nas mesas do estabelecimento, decisões políticas de impacto nacional foram tomadas, junto com a constante movimentação da cena cultural de Belo Horizonte.
O cardápio, extenso e variado, oferece desde opções tradicionais até especialidades internacionais, como o Filé Surprise, Filé à Parmegiana e o Arroz à Piamontese, mantendo o espírito sofisticado dos restaurantes de hotéis da época. A decoração preserva o estilo de décadas passadas, mantendo os ornamentos originais, como garrafas penduradas no teto e as charmosas toalhas de mesa que nos levam a uma viagem no tempo. Além disso, o atendimento é um dos pontos mais altos da experiência, com garçons experientes, atenciosos e vestidos a rigor, como o lendário Seu Olímpio, hoje falecido, que foi imortalizado pelo Guinness Book como o garçom com mais tempo de atividade no Brasil — mais de quarenta anos de serviço primoroso prestado à clientela da Cantina. Sempre com o broche do “Partidão”, Olímpio é também lembrado pela sua militância ativa que rendeu muitas anedotas icônicas para a cidade. Em sua homenagem, a casa criou o prato “Filé Olímpio”, preparado com filé fatiado ao molho rôti e champignon, acompanhado de arroz com açafrão, molho branco, tomate, batata palha e brócolis.
Um poço de histórias sem fim, hoje a Cantina do Lucas mantém-se como um símbolo de resistência cultural e boêmia, oferecendo aos seus clientes uma experiência inigualável de gastronomia e afeto dentro de um dos mais tradicionais centros comerciais e residenciais de Belo Horizonte.
Se quiser conhecer um dos mais tradicionais locais de comida e boemia desta cidade, saiba que a Cantina do Lucas é incontornável! Aproveite para coletar as histórias inenarráveis que seus garçons colecionam e compartilham.
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