Um boteco familiar e amado pelos seus frequentadores, com um casal de donos que cativa moradores e visitantes de toda a cidade com seu carisma, boa comida e uma decoração cuja beleza só pode ser vista e entendida a olho nu.
Quando a história da família Rezende com mercearias e botequins começou, o bairro São Geraldo, na Regional Leste de Belo Horizonte, ainda nem tinha asfalto. Jorge Antônio de Rezende, conhecido como Seu Jorge, e seu irmão José Geraldo, hoje Zé Pomba, assumiram a mercearia do pai, e quando Jorge tinha apenas 19 anos, finalmente, encontrou sua vocação para lidar com o público no armazém da família. Ele tinha acabado de sair do serviço militar em pleno ano de 1968 e cursou contabilidade, tornearia e pintura nas escolas técnicas da cidade.
Inicialmente batizado com o nome de Dois Poderes (em homenagem ao Atlético e ao Cruzeiro, os dois maiores times de futebol do estado) e depois Três Poderes (incluindo o América, terceiro maior), o bar dos irmãos passou por vários nomes e alguns endereços dentro do São Geraldo, chegando a um imóvel cheio de personalidade na frente da casa de uma das irmãs de Jorge. A paixão pelo futebol guiou a maior parte da história do bar: era tão grande que levou à criação de dois times nos anos 1970, o Éden Futebol Clube e o Magg’s. A avenida Silva Alvarenga (endereço anterior do bar) era constantemente fechada e ocupada para fazer pelada, carnaval, blocos, bandas, consolidando o boteco como um verdadeiro ponto de cultura e sociabilidade na região, suprindo de certa maneira a falta que acomete a maioria dos bairros mais distantes do centro da cidade.
Com o casamento e o nascimento dos filhos, os irmãos dividiram os botecos. Jorge seguiu no ramo montando o Bar do Jorge, mais conhecido pelos seus muitos clientes espalhados por toda a cidade como Bar do Caixote. Nas últimas três décadas e ainda hoje, quem tomou o protagonismo na cozinha foi Edna, esposa de Jorge, oferecendo diversos produtos muito procurados na estufa e no prato. O clássico da estufa é o bolinho de carne, mas também tem mandioca, torresmo de barriga e linguiça. Nas refeições, o mais pedido é o tropeiro, que tem várias versões para agradar a todos os gostos.
Com a merecida aposentadoria de Jorge, hoje quem toca a frente do bar é o filho do casal, Rodrigo, que recebe muita ajuda da esposa também. O pai, com suas longas barbas brancas, gravata sob camiseta, bermuda e chinelo, continua a bater ponto ali sempre que pode, agora mais para receber a clientela que sempre o procura e para apoiar a família na operação.
O bar sempre está lotado e fecha quando a noitada acaba: “às vezes a gente fica aqui até o dia clarear, porque os clientes não dão trabalho”, conta Jorge. Pela vocação da madrugada, não é raro que grupos de músicos se encontrem ali depois das apresentações de fim de semana, o que proporciona um espetáculo improvisado com cantorias, sanfonas, violões e o que mais estiver à disposição dos músicos.
Rodrigo, filho do casal e atual administrador, cresceu no bar. Jorge conta que, quando era bebê, o filho dormia dentro de um freezer desligado enquanto a mãe tocava a cozinha e o pai tocava o galpão. Talvez por isso ele mantenha o ambiente exatamente como sempre foi, o que é um show à parte. As paredes são cobertas de bugigangas, caricaturas de Jorge feitas por clientes amigos, garrafas antigas, além de livros e revistas que estão à disposição do freguês que quiser ler e folhear. Os caixotes, convertidos nas mesas do boteco, são os mesmos que deram nome ao local e estão lá até hoje.
Tanta história e personalidade não caberiam em um texto: o negócio é ir ao bar, ver, comer, beber e conversar com Edna, Rodrigo e Jorge. Se estiver procurando um bar com alma, eis aqui uma belíssima indicação. Só indo até lá para entender.
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