Escondido em uma esquina aparentemente comum na Rua Engenheiro Correia, n° 295, no bairro Nova Floresta, o Mercadinho Katanga carrega décadas de memórias e tradição. Fundado em 1985 por Neivaldo, o bar tem suas raízes na boemia de Belo Horizonte e traz consigo uma história que começou muito antes, na cidade de Itabira, onde Neivaldo e seu irmão gêmeo, Nivaldo, enfrentaram a perda da mãe logo no nascimento. O pai dos gêmeos, ao encarar a situação de ter que criar mais de dez filhos, decidiu separar os irmãos recém-nascidos. Neivaldo foi criado por sua tia e Nivaldo, pela avó. Com o passar do tempo, os irmãos se reencontraram e vieram para Belo Horizonte para colocar em prática a tradição do comércio da família.

 Na capital mineira, junto com outros irmãos, eles assumiram um empreendimento já existente e famoso em Santa Tereza, o Restaurante Katanga. No bairro, eles ficaram conhecidos como “os Katanga”, e por infortúnio do destino, após dois anos administrando o local, os irmãos perderam o ponto e cada um seguiu seu caminho. Foi a partir daí que Neivaldo se tornou um empreendedor disposto a não perder nenhuma oportunidade e se arriscar em diversos negócios.

  Fundado no Horto em 1985 por Neivaldo, o Mercadinho Katanga começou como um sacolão, mas com o tempo os clientes começaram a ficar para tomar uma cerveja. Assim, o que era uma simples mercearia logo se transformou em um dos pontos de encontro mais queridos da região. E já que inovação é o sobrenome de Neivaldo, ele não parou por aí: o primeiro alvará é da década de 80 e já foi alterado para oito atividades diferentes! O Katanga já teve filiais em vários locais e atividades das mais diversas: hamburgueria, restaurante, ponto de aluguel de mesas, bar e loja de pastel com caldo de cana são algumas delas.

  Após sete anos no primeiro endereço, o Mercadinho Katanga abriu um ponto no bairro Nova Floresta que acabou se tornando o único endereço do bar. Em pouco tempo, se consolidou como um ponto de referência para festas e celebrações no bairro, com arraiais que chegaram a durar três dias ininterruptos. Fechar a rua do mercadinho não era novidade, fosse para shows do famoso cover de Roberto Carlos, pela Copa do Mundo de 94, ou qualquer situação que merecesse ser celebrada. Com os anos, Neivaldo foi reduzindo o ritmo acelerado de comerciante. Hoje, os clientes se juntam para comemorar os aniversários do mês no estabelecimento, e um dos frequentadores fiéis vai uma vez por mês ao mercado para tocar rock. Um legítimo bar dos amigos, que tem até um grupo de WhatsApp para organizar encontros e atividades no local.

  Muitos dos produtos que fazem sucesso no Katanga, como queijos, mandioca, banana e cachaça, vêm diretamente da fazenda da família de comerciantes. Boa parte dos tira-gostos, como o pastel de queijo, as almôndegas e o torresmo de barriga, são preparados na própria cozinha, com a ajuda da irmã de Neivaldo. Além do gêmeo Nivaldo (dono do Mercadinho Bicalho, um clássico do Santa Tereza), um irmão faz farinha de milho, uma irmã prepara as famosas empadas do Katanga e outro irmão é responsável pelas cachaças. E a história dos irmãos faz com que os clientes queiram conhecer os outros estabelecimentos da família.

  Com o excesso típico de mercearias, o ambiente é decorado com relíquias retiradas das casas da família. A estrela da casa é uma pequena bicicleta utilizada por Neivaldo na sua infância, muito disputada pelos clientes. O atendimento e ambiente calorosos fazem com que o mercado tenha clientes que já frequentam o local há décadas.

  Além de Neivaldo na administração, o Mercadinho Katanga conta com a ajuda de seu filho Matheus, que está terminando o ensino médio e já demonstra interesse em continuar o legado da família. Com a presença forte da comunidade e as celebrações que continuam acontecendo, o Katanga é muito mais que um simples bar, é um lugar que conta a história das pessoas que fazem parte da boemia de Belo Horizonte e principalmente da Regional Leste.

  Se quer conhecer uma mercearia de encher os olhos, vá experimentar os tira-gostos do Katanga e aproveite para apreciar os diversos artigos históricos desse museu da cultura belo-horizontina.