Sem placa na porta e sem cardápio impresso, o Bar do Baiano preserva uma essência que só os mais tradicionais botecos conseguem manter. É na simplicidade que reside a alma desse lugar, onde os pedidos são anotados no clássico quadro de letrinhas e onde as regras de convivência são tão famosas quanto a cobiçada carne de sol. O sergipano e ex-açougueiro José Ferreira, carinhosamente apelidado de Baiano, chegou a Belo Horizonte em 1967, vindo da Bahia, e trouxe com ele a expertise em cortes de carne e a disposição de construir uma vida nova na capital dos bares. Foi no bairro Pompeia que Baiano cravou suas raízes e, ao lado da família, ganhou notoriedade por sua carne de sol, seu tempero apurado e, principalmente, pela gestão firme do negócio, repleta de regras no mínimo curiosas.

José era de fato uma figura curiosa: sergipano, era chamado de baiano, mas morava na capital de Minas Gerais. No entanto, o aspecto mais marcante da personalidade era a rigorosidade, que se mantém no estabelecimento até hoje nas regras expostas na parede. Regras como “não fumar”, “não namorar” e “não ficar em pé na frente da TV se alguém estiver assistindo” garantiam a ordem no pequeno boteco e uma permanência no imaginário dos clientes. Seu jeito rigoroso e ao mesmo tempo afável com aqueles que conquistaram seu respeito era o que mantinha a clientela fiel.

A fama do bar logo ultrapassou os limites do bairro. Políticos, jogadores de futebol e outras figuras conhecidas frequentavam o Bar do Baiano, e com eles vinha a aura de um lugar que parecia congelado no tempo, mas que mantinha a hospitalidade calorosa de sempre. Depois de 25 a 30 anos no endereço original, na Rua Niquelina, o bar mudou-se para uma garagem na Rua Iara, no bairro Pompeia. O espaço simples adquirido pelo Baiano ganhou novos contornos, mas a alma se manteve intacta.

      Após o falecimento do Baiano em 2014, o comando do bar passou para seu filho Anselmo. A cozinha no bar, depois do falecimento de Dona Nair, viúva de Baiano, permanece sob o olhar atento de Anselmo e sua esposa, Nisia, que seguem firmes no comando, garantindo que os sabores do passado continuem presentes. Sob suas mãos, o bolinho de carne, o pimentão recheado e o pastel de couve-flor seguem encantando o paladar dos clientes, com variações que dependem do que vem da roça.

  Além dos petiscos variados, o cardápio tem como estrela a famosa paçoca de carne de sol, prato que por décadas foi preparado no pilão por Baiano e, agora, é reproduzido por Anselmo, que herdou não só o ofício, mas também o cuidado com o preparo. Sobre o balcão, itens como ovo caipira, queijo minas e rapadura de banana estão à venda, dando ao bar uma atmosfera de mercadinho de bairro, onde o sabor caseiro se une ao clima familiar.

  O ambiente também permanece fiel às suas origens. Mesas de plástico, cadeiras de lata, banquinhos de madeira e um freezer horizontal compõem a paisagem simples, mas cheia de personalidade. Sobre o armário de copos, uma televisão exibe os jogos e as notícias, reforçando o clima de boteco tradicional. Os domingos são marcados pelo churrasco na rua, com picanha de sol, filé mignon de sol, costelinha e algumas surpresas extras. Os famosos pratos de feijoada, fígado de galinha e bacalhau são sazonais.

  Para acompanhar os pratos, há uma vasta seleção de bebidas. Cervejas industrializadas ou artesanais estão sempre geladas, prontas para serem servidas. Além disso, o bar oferece mais de 20 variedades de cachaça, que podem ser degustadas à vontade, seja em doses ou como parte da experiência gastronômica que o Bar do Baiano proporciona.

      O legado do Bar do Baiano vai além de seu cardápio e de suas regras rígidas. Trata-se de uma verdadeira instituição de Belo Horizonte, onde a tradição é respeitada e celebrada por gerações. Frequentado por um público fiel, o bar mantém uma clientela fixa, que forma um seleto grupo intitulado de “diretoria” — frequentadores antigos que ajudaram a moldar a cultura do local e que compartilham histórias e memórias que enriquecem ainda mais o ambiente.

  O Bar do Baiano é a prova viva de que, às vezes, o segredo do sucesso está justamente em não mudar, preservar o que é bom e acolher quem aprecia o que é sincero! Esse vale a visita!