Um patrimônio do samba belo-horizontino, o Bar Opção atravessa gerações com o amor à música. Em 1983, no bairro Caiçara, o bar nasceu na casa de um catador de sucatas e sua família, e a vocação da reciclagem é espalhada pelo recinto, com itens como roda de bicicleta, carrancas e cadeira de dentista que retomam as origens. O fundador, Ronaldo “Coisa Nossa”, uma figura emblemática da velha guarda do samba, mantém no subsolo do bar um estúdio onde registra suas centenas de composições, tornando o lugar recheado de memórias. De lá para cá, o bar se consolidou como um dos redutos mais importantes da cidade para quem aprecia a música, a boa comida e a cultura afro-mineira.

A história do Bar Opção começa no início dos anos 80, quando Ronaldo, juntamente com amigos e familiares, fundou o bloco carnavalesco É Coisa Nossa: “Tivemos que formar um bloco carnavalesco porque não havia muitas opções de lazer na época e para poder reivindicar benefícios para a região”, relembra. Antes do bar se concretizar, o espaço onde está localizado não tinha asfalto, água ou luz. Tudo era improvisado, movido pela vontade de criar um ponto de apoio para os ensaios do bloco, que logo passou a ser conhecido na região pela alegria do samba que ecoava nos finais de semana.

Aos poucos, o local foi crescendo e se transformando. Inicialmente, o bar era apenas um espaço improvisado na garagem, onde as rodas de samba aconteciam, com mesas simples e cadeiras de ferro, muitas delas provenientes de ferro-velho onde Ronaldo trabalhava. Sua mãe, Dona Francisca, ex-cozinheira do famoso Café Bahia, desempenhou um papel crucial nos primeiros anos do bar, preparando refeições caseiras para acompanhar as rodas de samba. 

“Quando Ronaldo tocava com os amigos, minha avó, que era cozinheira, fazia comida pra todo mundo”, lembra Georgina, filha mais velha de Ronaldo e atual administradora do bar. Ela também é responsável, junto com sua filha Ester, pelos doces e bolos caseiros que fazem sucesso entre os frequentadores. Geovane, filho caçula de Ronaldo, além de ajudar no bar, é professor de percussão e também atua nas rodas de samba que ocorrem no local. Já Jorge, filho do meio, é mestre de drinks e atualmente não trabalha mais no bar.

Nos anos 90, o bar era chamado Del Rangos e fornecia alimentação para os pedreiros durante a construção do Shopping Del Rey, um dos grandes marcos do bairro Caiçara. “A gente servia comida para o pessoal da obra praticamente 24 horas por dia”, lembra Ronaldo. A clientela incluía trabalhadores vindos de diversas regiões, como Uberlândia, que passavam longos períodos no bar entre refeições e confraternizações, criando um elo especial com o local. Essa fase contribuiu para consolidar ainda mais o Bar Opção como um ponto de referência para os moradores da região e para toda a cidade. Foi a partir dessa época que o bar começou a atrair músicos e sambistas de outras partes de Belo Horizonte, que viam ali um espaço autêntico para expressar sua arte.

O Bar Opção é, hoje, reconhecido como um dos principais redutos do samba de Belo Horizonte. Aos sábados e domingos, o bar abre suas portas para receber amantes da música e da boa comida, que encontram ali uma atmosfera genuína, familiar e acolhedora. “Fazia samba todo o final de semana, e como samba pede uma cerveja e uma cachaça...”, diz Ronaldo, com seu humor característico, enquanto explica a fórmula que tornou o bar um sucesso. Entre os pratos mais pedidos estão a maçã de peito e a linguiça defumada com mandioca, sempre acompanhados de uma cerveja bem gelada e uma tradicional caipirinha — receita que foi passada de geração em geração, ensinada pela Dona Maria, falecida esposa de Ronaldo, companheira de toda essa luta.

Além de ser um ponto de encontro para músicos e sambistas, o Bar Opção também se destaca por seu papel na comunidade. A família de Ronaldo, que sempre teve uma forte conexão com a reciclagem, mantém essa prática viva até hoje. Muitos dos objetos e móveis do bar são feitos a partir de materiais reciclados, conferindo ao ambiente um caráter único e sustentável.

O bar também apoia a cultura local, oferecendo espaço para feiras de artesanato, com destaque para produtos de temática afro-brasileira. “A gente cede o espaço para os artesãos, que trazem brincos, roupas e outros produtos. É uma forma de fomentar o comércio e difundir a cultura afro”, explica Geovane. Além disso, o Bar Opção oferece aulas de percussão e promove apresentações ao vivo, fortalecendo a relação com a música e a comunidade. Macaé Evaristo, atual Ministra dos Direitos Humanos e importante figura da educação e cultura mineira, é uma das ilustres frequentadoras do bar, evidenciando o papel do local como um ponto de resistência cultural.

A dedicação de Ronaldo ao samba e à luta social, por meio das mais de mil músicas compostas, tornou-lhe membro da Velha Guarda do Samba de Minas Gerais, além de diversas outras condecorações. Apesar de todas as mudanças que a cidade e o bairro enfrentaram ao longo das décadas, o Bar Opção permanece fiel às suas origens. “Aqui é a casa do samba”, afirma Ronaldo com orgulho. E essa tradição segue viva, com o bar sendo frequentado por músicos, compositores e famílias que encontram no espaço um pedaço autêntico da história de Belo Horizonte.