Poucos bares nos permitem viajar no tempo como esta belíssima pérola da mina que é a Leiteria Casa Branca. Com clientela cativa e quase exclusivamente do bairro Pompeia e imediações, temos aqui um dos mais prestigiados bares de toda a cidade: do balcão de madeira ao piso tradicionalíssimo, do baleiro aos rótulos novos e antigos que estampam a bela coleção de garrafas nas recheadas prateleiras, tudo é uma aula de história!

   De domingo a domingo, Seu Pedro, atual dono do local, já a partir das 7h da manhã recebe seus fiéis fregueses, alguns deles bisnetos dos originais frequentadores. Ali, o produto de maior rodagem é a cachaça, que é fornecida pelo mesmo fabricante de Alto Rio Doce há 40 anos. 

  Seu Pedro Gonçalves de Azevedo, hoje proprietário, está atrás daquele balcão desde 1986, quando se mudou do interior, largando o trabalho rural da família, para migrar para a capital. Ele chegou à cidade a convite do antigo dono da leiteria, que tinha um sítio em Entre Rios de Minas, onde Pedro cresceu. O combinado era o interiorano vir para a cidade para ajudar a cuidar do pai do dono da leiteria, que estava doente, e também dar uma força na venda da família.

  Seu Pedro conta que, na época de sua chegada, a leiteria chegava a vender, por dia, de 30 a 40 caixas daqueles antigos leites em saquinho — cerca de 120 litros diários! Só mais tarde chegou o leite em caixinha que ele vende até hoje, cada vez em menor quantidade. De leiteria mesmo, a loja só carrega o nome. Agora está mais para bar que para mercearia, inclusive. Apesar de ainda vender alguns produtos como originalmente, hoje ela recebe os velhos clientes para aproveitar a cerveja, a pinga e a boa prosa de balcão.

  Quando perguntado sobre a origem do prédio, o dono não soube responder. Sugeriu que atravessássemos a rua para conversar com Seu Antônio, proprietário de uma mercearia logo na esquina de frente. Seu Antônio nos contou que fundou sua loja em 1964 e que a do Seu Pedro foi construída não mais que 5 anos antes. Assim, a Leiteria Casa Branca seria, no máximo, de 59.

  Tanto o proprietário original da leiteria quanto Seu Antônio aproveitaram o ponto porque, muito próximo dali, funcionava o antigo Cine Pompeia, cujo prédio continua na rua. O cinema fechou, assim como muitos outros saudosos cinemas de bairro que iluminaram o imaginário da capital por décadas. Depois, com o aparecimento do Supermercado EPA da região, segundo Seu Antônio, as mercearias “acabaram”, perdendo a pujança original e passando a funcionar mais como bares. Nos tempos áureos, também havia um clube de dança, chamado de “boate” na época, que recebia muitas visitas ilustres, como a do ex-presidente Juscelino Kubitschek e sua esposa.

  Ainda é possível visitar a Leiteria Casa Branca e a vizinha Mercearia do Antônio. Em suas arquiteturas e decorações, é possível ainda ver as reminiscências do tempo dos cinemas, assim como em alguns outros prédios da rua.

  Se quiser viajar no tempo, dê uma passada pela rua Casa Branca. Seu Pedro, que mora na casa logo atrás do bar, certamente estará lá para acompanhá-lo em um dedo de prosa — aproveite enquanto é tempo!